A dependência de álcool e as características psicossociais do trabalho: um estudo prospectivo

CISA – Centro de Informações sobre Saúde e Álcool

Na cultura ocidental, a dependência de álcool é tema de saúde pública de relevância. Embora muito se conheça a respeito dos efeitos sociais e de saúde decorrentes do consumo de álcool, ainda pouco se sabe a respeito da interferência das condições do ambiente de trabalho sobre o uso e a dependência de álcool, principalmente no que se refere às suas características psicossociais.

Com o propósito de descobrir a associação da dependência de álcool às medidas psicossociais de trabalho, os autores realizaram um estudo prospectivo com 10.308 funcionários civis ingleses, de setores não-industriais, de faixa etária entre 35 a 55 anos. Adotaram-se 2 modelos teóricos para o estudo da relação do estresse do ambiente de trabalho à dependência de álcool, através da análise de medidas psicossociais como a demanda do serviço, suporte social pelo supervisor ou colegas de trabalho, possibilidade de decisão e prática das habilidades individuais e relação entre o esforço despendido e a recompensa recebida no âmbito de trabalho. Na análise foram inseridos possíveis fatores de risco que não estivessem associados ao ambiente de trabalho, tais como comportamentos de saúde (consumo de tabaco e álcool), estado civil, suporte e rede social fora do trabalho, dificuldades financeiras e eventos estressantes da vida.

Assim, conforme os resultados do estudo há características do ambiente de trabalho que consistem em verdadeiros fatores de risco à dependência de álcool, independentemente de doenças físicas pré-existentes, saúde mental prejudicada ou mudanças adversas do suporte ou tamanho da rede social. A interferência das medidas de trabalho distinguiu-se conforme o sexo do participante. Assim, entre os homens houve forte associação das condições psicossociais do ambiente de trabalho com a dependência de álcool, principalmente em termos do desbalanço e falta de reciprocidade da relação esforço/recompensa. Quando o funcionário se esforça e tem seu trabalho pouco reconhecido, seja na forma de salário ou promoção, aumentam-se os riscos para a dependência de álcool e outros problemas de saúde. Ainda entre os homens, aspectos negativos de relacionamentos externos, rede social reduzida e experiência passada de doença estão fortemente associados à dependência de álcool. No que tange à dimensão da rede social, quanto maior, menor a chance de envolvimentos sérios com álcool. Entre as mulheres a situação é um pouco diferente. A falta de autonomia e a falta de oportunidade de empregar habilidades específicas no âmbito de trabalho, associadas a cargos de destaque e de maior responsabilidade, aumentam os riscos do uso problemático de álcool e dependência. Contrariamente à hipótese inicial, medidas psicossociais relacionadas à exigência demasiada e pouco suporte dos supervisores ou colegas de trabalho não influenciaram o risco de dependência á álcool.

De forma geral, independentemente do sexo, os autores apontam que a deficiência de recompensa social adequada, principalmente no ambiente de trabalho, alimenta a incidência do comportamento do uso de drogas entre os funcionários, deficiência que é reforçada pela experiência, na vida, de relacionamentos sociais desfavoráveis não necessariamente associados ao trabalho. Assim, os autores sugerem que pesquisas e programas de prevenção voltados à saúde ocupacional deveriam enfatizar a interferência de fatores psicossociais do trabalho na dependência de álcool.

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