Análise de vídeos do YouTube que expõem intoxicação alcóolica

CISA – Centro de Informações sobre Saúde e Álcool

O consumo de bebidas alcoólicas por jovens, especialmente quando ocorre embriaguez, associa-se a maior probabilidade de envolvimento em comportamentos de risco e consequências negativas, como brigas, atividade sexual desprotegida, acidentes de trânsito, além do risco para dependência de álcool. Com novas mídias sociais muito acessíveis, estima-se que crianças e jovens de 8 a 18 anos são diariamente expostos por até 10 horas a mensagens virtuais.

Para melhor entendimento do impacto exercido por tais conteúdos relacionados ao álcool, um estudo teve como objetivo caracterizar os principais vídeos do YouTube relacionados à intoxicação alcoólica e analisar fatores avaliados positiva ou negativamente pelos internautas. Ao utilizar as ferramentas de “curtir” e “não curtir” os pesquisadores avaliaram sentimentos de aprovação ou reprovação do conteúdo dos vídeos, e espera-se que essas informações possam contribuir para futuras intervenções nos prejuízos do consumo nocivo de álcool.

Foram então selecionados os 70 vídeos mais relevantes (segundo seleção do próprio site) e populares (segundo busca pelos mais vistos) do YouTube. Os vídeos foram classificados de acordo com 42 características, em 6 categorias: características do vídeo, caráter sociodemográfico, apresentação do álcool, intensidade de uso, características associadas ao álcool e às consequências do uso dessa substância.

Os vídeos selecionados tiveram mais de 330 milhões de visualizações, sendo que cada um recebeu, em média, aproximadamente 1600 “curtidas” e apenas 33 “não curtidas”. Enquanto 89% dos vídeos envolviam homens, mulheres apareceram em 44%. As bebidas que mais apareceram foram os destilados (vodca, uísque, rum, licor, tequila), seguidos de cerveja, vinhos e champanhe, com quase metade (44%) dos vídeos exibindo nome da marca. Em 70% dos vídeos, aspectos de humor estiveram associados, e o uso de veículos automotores em 24%. Houve maior número de aprovações quando o vídeo despertava humor, fazia referência a jogos, continha bebidas destiladas ou alguma marca de bebida alcoólica, insinuava referências de atração física e quando não apresentavam lesões físicas e intoxicação. Constatou-se também que nenhum dos vídeos fez referências a intervenções de saúde pública.

A partir desses resultados, os autores do estudo discutem que o sexo masculino pode ser mais vulnerável a influências por tais vídeos. Ainda, a quantidade de vídeos com bebidas destiladas também é um ponto importante e preocupante, uma vez que o alto teor alcoólico presente nestas bebidas associa-se a maior potencial de danos à saúde, especialmente entre jovens. Em 86% dos vídeos foi retratada intoxicação alcoólica e em 33% padrão de beber pesado episódico, com 7% deles relacionados à dependência ao álcool, levantando a discussão de ser comum que a mídia enfatize o lado divertido do uso de álcool e dê menos importância às potenciais consequências negativas e prejuízos associados.

Como nessa pesquisa foram avaliados apenas vídeos em inglês, uma limitação desse estudo é que esses resultados só podem ser considerados para os países de língua inglesa.

Os autores concluem que vídeos da internet que descrevem a intoxicação pelo álcool são amplamente visualizados e destacam um lado positivo e cômico do beber, que pode levar uma geração a cultivar a falsa percepção dos riscos reais do consumo nocivo de álcool, visto que raramente são retratados os aspectos negativos. Chama a atenção também que a popularidade e ampla visibilidade desse site poderia proporcionar grandes oportunidades para intervenções de saúde pública e campanhas preventivas para juventude.

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