Consequências do uso moderado de álcool

CISA – Centro de Informações sobre Saúde e Álcool

De acordo com relatório do National Institute on Alcohol Abuse and Alcoholism (NIAAA) publicado em junho de 2004, aproximadamente 35% da população adulta americana não consome nenhum tipo de bebida alcoólica, 60% faz um uso moderado do álcool e 5-7% abusa do álcool ou são alcoolistas. O consumo de álcool nos Estados Unidos causa 100.000 mortes anuais, dentre as quais 16.000 estão associadas a acidentes de trânsito. Verifica-se ainda que indivíduos que abusam do álcool vêem-se envolvidos em um número maior de mortes relacionadas a episódios de violência, suicídio, envenenamento, cirrose hepática, câncer e derrame. Paralelo aos efeitos maléficos do abuso de bebidas alcoólicas, verifica-se que a álcool contribui para a prevenção de doenças coronarianas, as quais são a maior causa de morte nos Estados Unidos.

O relatório do NIAAA aponta que nos últimos 50 anos vários estudos exploraram a relação entre consumo de bebidas alcoólicas e sua relação com diversas questões de saúde, incluindo câncer, doenças cardiovasculares, diabetes e demência. Muitas das pesquisas avaliaram a relação entre o não consumo de álcool, o consumo moderado de bebidas alcoólicas e seu abuso. Este artigo resume os principais resultados de pesquisas relacionadas com o uso moderado de álcool, seus potenciais benefícios e malefícios.

Considerações sobre a definição de uso moderado

Apesar do Departamento Americano de Saúde e Serviços Humanos (U.S. Department of Health and Human Services) definir que o consumo moderado de álcool equivale a uma dose de bebida diária para as mulheres e duas doses diárias para os homens, muitos estudos estabeleceram diferentes critérios para o consumo moderado em suas investigações. Este fato pode dificultar a interpretação dos resultados relacionados aos efeitos benéficos e maléficos do uso moderado de álcool. É também importante compreender que quantidades consideradas moderadas em algumas situações, podem ser consideradas abusivas em outras (grávidas, pessoas que vão dirigir, entre outros casos). O relatório do NIAAA esclarece que as dificuldades relacionadas a definição de uso moderado de álcool é até certo ponto resultado das diferenças individuais,  ou seja, a quantidade de álcool que uma pessoa pode consumir sem estar intoxicada varia de acordo com a experiência, tolerância, metabolismo, vulnerabilidade genética, estilo de vida e tempo em que o álcool é consumido (três doses em uma hora produz uma concentração de álcool no sangue muito maior do que três doses no curso de três horas).

Consequências do consumo moderado de álcool

O NIAAA explora as consequências do consumo moderado de álcool nas seguintes áreas:

1.     Problemas cardiovasculares:

O relatório do NIAAA afirma que pesquisas científicas evidenciam que uma a quatro doses de álcool diárias reduzem significativamente as chances de problemas cardiovasculares, e cinco ou mais doses diárias aumentam significativamente sua ocorrência. Esta relação mostra-se independente de idade, sexo e se a pessoa é ou não fumante. O relatório ainda aponta a existência de estudos recentes que mostram que os efeitos benéficos do consumo moderado de álcool começam a aparecer quando há o consumo de mais de uma dose diária para  as mulheres e uma dose e meia diária para os homens, sendo que fatores protetores estão relacionados mais com a frequência de consumo do que com o volume (pequenas quantidades de álcool consumido diversas vezes na semana reduzem mais os riscos de problemas coronarianos do que a mesma quantidade consumida com menor frequência).

O NIAAA esclarece que o uso abusivo de álcool pode levar a problemas no sistema cardiovascular, mais especificamente no funcionamento do ventrículo esquerdo do coração, o que pode levar a cardiomiopatia alcoólica. O relatório esclarece que a cardiomiopatia apresenta diversas causas,  sendo que o alcoolismo é um dos maiores fatores relacionados a cardiomiopatia dilatada nos Estados Unidos.

2.     Câncer de mama

Ainda é controversa a relação entre os efeitos do álcool e a incidência de câncer de mama. Dados epidemiológicos apontam associação entre o consumo de álcool e um aumento no risco de câncer, mas esta relação não é tão clara quando há o consumo moderado de álcool. Fatores de risco estão associados a pessoas que se submetem ao  tratamento de reposição de estrógeno e/ou que apresentam casos de câncer de mama na família.

3.     Obesidade e diabetes

Ainda não se sabe exatamente os efeitos da relação entre o consumo moderado de álcool e o aumento de peso. O relatório do NIAAA aponta que o uso moderado de álcool reduz a incidência de diabete tipo 2 tanto em mulheres quanto em homens.

4.     Álcool e gravidez

O consumo abusivo de álcool durante a gravidez pode produzir graves problemas psico-comportamentais na criança, má formação congênita e retardo mental. O consumo moderado de álcool não está associado a má formação congênita, mas pode levar a problemas comportamentais e neurocognitivos. Apesar de se saber que o consumo de álcool tem efeitos maléficos para o feto, ainda não se sabe ao certo a dosagem mínima responsável pelos problemas decorrentes do uso de álcool durante a gravidez. No sentido de prevenir possíveis problemas para o feto e para a criança, em 1981 o governo americano passou a recomendar a abstinência do álcool durante a gravidez.

5.     Amamentação

O relatório no NIAAA afirma que apesar de nos Estados Unidos existir a crença popular de que o álcool ajuda na amamentação aumentando a produção de leite, pesquisas  científicas indicam que o álcool pode até diminuir a produção de leite, especialmente algumas horas depois de seu consumo.  O relatório aconselha as mães a limitar o consumo de álcool e a esperar algumas horas até que chegue o horário da amamentação.

6.     Envelhecimento

O uso abusivo e prolongado de álcool está associado a ocorrência de demências nos indivíduos. Os dois tipos mais comuns de demência na população ocidental são o Alzheimer e a demência vascular. O relatório do NIAAA menciona algumas pesquisas em que o consumo moderado de álcool demonstrou diminuir o risco de demência vascular.

O relatório também esclarece que para uma mesma dose de álcool, o nível de álcool no sangue em idosos é maior do que o nível de álcool no sangue de pessoas mais jovens.  Isto se deve possivelmente a mudanças no índice de massa corpórea, na quantidade de água no corpo e no comprometimento das funções hepáticas.

7. Considerações adicionais

7.1 Dependência e abuso de álcool

O relatório do NIAAA alerta que pessoas que não bebem ou que fazem um uso moderado do álcool podem vir a se tornar alcoolistas caso comecem a aumentar o consumo de bebidas alcoólicas. Inúmeros fatores estão relacionados a dependência de álcool, dentre eles destacam-se os fatores genéticos, ambientais e a interação entre ambos. Uma estimativa baixa prevê que 5 a 7% das pessoas que não consomem álcool ou que fazem um uso esporádico do álcool venham a ter problemas decorrentes de seu uso. Dados epidemiológicos apontam que há um risco maior para o desenvolvimento da dependência alcoólica para os indivíduos que encontram-se na faixa etária entre 18 e 25 anos.

7.2 Consequências cerebrovasculares

Problemas cerebrovasculares (ex: derrames) são a terceira causa de morte e a primeira causa de deficiência nos Estados Unidos. O risco de derrames aumenta com a idade, sendo que apenas 25% dos derrames ocorrem em pessoas com menos de 65 anos. O uso abusivo de álcool é responsável por um aumento na pressão sanguínea aumentando o risco de derrames, sendo que o consumo moderado de álcool pode reduzir o risco de derrame isquêmicos e aumentar a ocorrência de derrames hemorrágicos.

7.3 Comprometimento hepático

O abuso de álcool é a primeira causa de morte por doenças no fígado nos Estados Unidos, sendo que 40 a 90% destas mortes são devidas a cirrose hepática. Apesar de ainda não se saber ao certo o nível de dosagem alcoólica responsável por doenças do fígado, estudos sugerem que 14 doses semanais para os homens e 7 doses por semana já podem levar a ocorrência de doenças hepáticas, enquanto outros estudos sugerem doses mais altas. O relatório do NIAAA sugere que a cirrose hepática está geralmente associada ao consumo de 5 doses de álcool/dia por um período de pelo menos 5 anos.

7.4 Câncer coloretal

De acordo com relatório do NIAAA, resultados de pesquisas relacionadas com o consumo de álcool e a incidência de câncer coloretal são inconclusivos. Alguns estudos encontraram uma relação entre o consumo moderado de álcool (1 a 2 doses/dia) e a incidência de câncer coloretal, enquanto outros não encontraram associação alguma e outros ainda concluíram que o consumo moderado de álcool tem efeito protetor na ocorrência de câncer.

* O National Institute on Alcohol Abuse and Alcoholism (Instituto Nacional de Alcoolismo e Abuso de Álcool) pertence ao Instituto Nacional de Saúde do Governo Americano.

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