Efeitos do beber pesado no sistema imunológico

CISA – Centro de Informações sobre Saúde e Álcool

O uso de álcool, especificamente quando leva ao estado de embriaguez, foi associado a mais de 30% dos casos de traumas físicos, e entre tais vítimas atendidas nas unidades de emergência, há maior risco para complicações, como doenças infecciosas e resposta inflamatória grave, o que implica maior mortalidade. Estudos em humanos e modelos animais já demonstraram que a intoxicação alcoólica exerce efeitos imunomoduladores com início em algumas horas a dias após a ingestão, quando o álcool no sangue já não é mais detectável. Entretanto, os efeitos imunomoduladores precoces do álcool no sangue ainda não são bem compreendidos.

Com o objetivo de elucidar esta questão, foram recrutados 15 voluntários saudáveis, sem história de problemas por uso de álcool, que mantiveram abstinência de álcool, cafeína e nicotina por ao menos 72 horas antes do teste. No teste, foi consumido álcool em quantidade necessária para atingir concentração alveolar igual ou superior a 0,1% (medido por bafômetro), com repetições dessa medição a cada 30 minutos. Ainda, para verificar a correlação da medida alveolar com a concentração de álcool no sangue, foram coletadas amostras sanguíneas após 20 minutos, 2 e 5 horas a partir do momento em que a concentração alveolar atingiu 0,1%. Todos os participantes atingiram pico de concentração de álcool no sangue entre 20 min e 2 horas, em valor superior a 100 mg/dL (suficiente para haver embriaguez).

A partir do sangue, foram analisadas células do sistema imunológico (monócitos, leucócitos e linfócitos), quantitativa e qualitativamente, e também a responsividade de citocinas (moléculas envolvidas na modulação das respostas imunológicas), isto é, se a produção de citocinas, diante de estímulos previamente estipulados, foi alterada ou não. Os resultados indicaram a ocorrência de estado pró-inflamatório precoce, aos 20 minutos, caracterizado por aumento no número de leucócitos circulantes e resposta inflamátória na produção de citocinas. Já nos tempos de 2 e 5 horas após a ingestão ocorreu estado anti-inflamatório, com diminuição e alteração dos tipos de leucócitos circulantes e resposta anti-inflamatória na produção de citocinas.

Como conclusão, os autores alertam que mesmo um único episódio de intoxicação alcoólica exerce efeitos sobre o sistema imunológico, causando alteração bifásica, isto é, inicialmente estado pró-inflamatório, seguido de estado anti-inflamatório. Os impactos clínicos dessas alterações não são totalmente conhecidos, mas para o caso de vítimas de traumas e acidentes com elevada concentração de álcool no sangue, é importante conhecer que haverá maior exposição aos ativadores de inflamação do próprio organismo e aos agentes infecciosos, o que poderia representar risco adicional à saúde.

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