Expectativas em relação ao álcool e seu uso nas diferentes faixas etárias

CISA – Centro de Informações sobre Saúde e Álcool

Nos últimos anos os modelos psico-sociais relacionados ao uso de álcool passaram a atribuir grande importância às expectativas dos indivíduos em relação as consequências do consumo de álcool. Verifica-se na literatura que as crenças dos indivíduos em relação aos efeitos do álcool no comportamento, humor e emoções estão correlacionadas com o uso de álcool por adolescentes e adultos. A decisão de consumir bebida alcoólica pode ter origem, por exemplo, na crença de que o álcool tem consequências positivas para o indivíduo, tais como o relaxamento e o alívio de tensão.

As expectativas sobre os possíveis efeitos do álcool iniciam-se na infância, muito antes do indivíduo fazer uso de qualquer substancia alcoólica, sendo que a criança constrói um sistema de crenças a partir de suas observações, aprendizado e assimilação de estereótipos culturais. Trabalhos na área concluem que as crianças possuem fundamentalmente uma visão negativa sobre os efeitos do consumo de álcool. No momento em que o indivíduo começa a entrar na puberdade e a ter um contato maior com o álcool, suas expectativas passam a se modificar e aos poucos ele passa a ver de forma positiva os efeitos de seu consumo. A partir da adolescência as mudanças nas expectativas do indivíduo passam a depender do acúmulo de suas experiências relacionadas ao consumo de álcool.

A partir de um levantamento realizado nos Estados Unidos intitulado Pesquisa Nacional sobre o Álcool (National Alcohol Survey) que buscou explorar os hábitos de consumo de álcool e seus problemas, um estudo foi realizado sobre as possíveis correlações existentes entre as expectativas dos indivíduos em relação as consequências do álcool e o seu consumo nas diversas faixas etárias. O trabalho fundamentou-se na idéia de que as expectativas em relação as consequências do uso de álcool dependem do acúmulo da experiência do indivíduo, sendo esperado que a relação entre as expectativas dos indivíduos e o uso de álcool se modifique de acordo com a idade dos indivíduos.

O levantamento incluiu entrevistas com 3168 indivíduos com idades a partir de 12 anos. A média etária da amostra adulta foi de 36 anos, sendo que 58% dos participantes eram mulheres, 76% brancos, 13% negros, 3% asiáticos e 8% hispânicos. Quanto ao consumo de álcool, 7% dos adultos relataram uso de álcool diário, 22% semanal, 21% mensal, 37% reportaram uso de álcool esporádico e 14% disseram nunca ter bebido. A média etária da amostra de adolescentes foi de 15 anos, sendo que 49% eram mulheres, 54% brancos, 18% negros, 3% asiáticos e 13% hispânicos. Dentre os adolescentes, 4% relataram uso de álcool semanal, 14% mensal, 33% relataram uso de álcool esporádico de álcool e 49% disseram nunca ter bebido. A pesquisa utilizou um questionário contendo 27 itens que descreviam tanto os possíveis efeitos positivos quanto os possíveis efeitos negativos do consumo de álcool

Resultados:
Em todas as faixas etárias as expectativas positivas em relação as consequências do consumo de álcool estavam correlacionadas positivamente com o uso de álcool e as expectativas negativas em relação as consequências do consumo de álcool estavam relacionadas negativamente com o consumo de álcool. Identificou-se que para os indivíduos entre 12 e 35 anos de idade as expectativas positivas são um indicador mais forte para o consumo de álcool do que as expectativas negativas para seu não consumo. Este fato não se verifica para as mulheres nas idades entre 36 e 45 anos e para os homens nas idades entre 36 e 60 anos em que tanto as expectativas positivas quanto as expectativas negativas demonstraram ser forte indicadores do uso e do não uso de álcool.

A pesquisa ainda concluiu que expectativas negativas das consequências do consumo de álcool é um forte indicador para possível abstinência de álcool, enquanto que expectativas positivas são um forte indicador para a quantidade de álcool consumido.

Importância dos resultados para programas de prevenção:
Os resultados deste estudo mostram que programas de prevenção que se baseiam na formação de expectativas negativas quanto as consequências do consumo de álcool podem ter pouca efetividade para adolescentes e jovens adultos que já fazem uso de álcool.

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