Fatores de risco para a dependência alcoólica

Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (CISA)

Abuso infantil, problemas conjugais, desemprego, baixo nível educacional, determinadas etnias e aculturação têm sido considerados fatores psicológicos de risco para o alcoolismo

A.T.A. Cheng; S-F. Gau; T.H.H. Chen; J-C. Chang; Y-T. Chang*

Essa doença apresenta fatores de risco significativamente mais elevados para adolescentes e homens adultos e para sujeitos com histórico familiar de alcoolismo.

Ademais, abuso infantil, problemas conjugais, desemprego, baixo nível educacional, determinadas etnias e aculturação têm sido considerados fatores psicológicos de risco para o alcoolismo. Há também a correlação da dependência de álcool com comorbidades, em especial transtornos de ansiedade e depressivos. Assim, a ingestão de álcool funcionaria como uma espécie de auto-medicação.

Estudos sobre o tema indicam que os homens apresentam maior tendência a beber mais precocemente e em maiores quantidades que as mulheres e também a manifestar tanto alcoolismo quanto problemas associados ao uso de álcool. Os estudos envolvendo aspectos genéticos que predispõem ao alcoolismo apontam para influência também dos genes envolvidos com a ação enzimática de metabolização do álcool.

O alelo ativo ADH2*2 é fator de proteção contra a instalação do alcoolismo, sendo predominante em populações asiáticas. Em duas pesquisas longitudinais envolvendo populações aborígines, encontrou-se elevada prevalência de abuso e dependência de álcool (33,9% e 36,4% para homens e 17,8% e 9,8% para mulheres, respectivamente).

Constatou-se também uma frequência baixa (0,02%-0,05%) do alelo inativo da enzima metabolizadora do álcool ALDH2*2 e frequência elevada (0,94%-1,00%) do alelo ativo do ADH3*1 no grupo normal de controle de sujeitos. Esses resultados indicam que nem o ALDH2 nem o ADH3 podem ser usados para examinar o risco para o alcoolismo em termos individuais. Notou-se também nesses estudos que o alelo ADH2 parece desempenhar um papel mais importante do que o alelo ADH3 como fator de risco no alcoolismo.

Os objetivos do estudo foram investigar os efeitos individuais e combinados dos fatores genéticos, socioculturais e psiquiátricos em casos de alcoolismo em uma amostra de aborígines.

A amostra foi composta de 4 grupos de indivíduos de etnia malaio-polinésia. A fase 1 do estudo apresentou taxa de resposta de 98,3%. O trabalho de campo consistiu em observação participante (o pesquisador participa da comunidade, porém evita se tornar “nativo”) das comunidades e entrevistas detalhadas dos indivíduos da amostra.

A entrevista consistiu em uma avaliação psiquiátrica completa sobre alcoolismo e outras comorbidades e também coleta de dados demográficos e sociais da amostra e de informantes-chave (pessoas que têm contato com os indivíduos da amostra e que, portanto, podem fornecer uma visão global do fenômeno). A fase da pesquisa apresentou taxa de resposta de 99,6% dos entrevistados. A amostra consistiu de 499 sujeitos que não apresentaram transtorno relacionado ao uso de álcool, segundo o DSM III-R, na fase anterior. Vinte e seis sujeitos haviam falecido e 8 foram excluídos devido à falta de dados socioculturais. Desse modo, a amostra final foi de 491 sujeitos com tempo médio de duração do follow-up de 4,3 + 5 anos. Buscou-se também analisar a influência do gene ADH2 em casos de alcoolismo na coorte normal.

Houve predomínio de mulheres na amostra (69,7%). Os homens, em comparação com as mulheres, eram mais jovens, mais frequentemente estavam inseridos no mercado de trabalho e apresentavam mais anos de estudo. A idade média nos 4 grupos variou de 31 a 38 anos entre homens e 37 a 41 anos entre as mulheres. Trinta e oito das 342 mulheres (11,1%) e 41 de 149 (27,5%) dos homens eram casos recém detectados de alcoolismo.

A idade média de instalação da doença foi de 26,5 anos para homens e 29,5 anos para mulheres. Em termos gerais, os homens e os jovens de 15 a 24 anos apresentaram maior risco de desenvolvimento do alcoolismo. Ademais, houve maior risco de manifestação da dependência de álcool para aqueles que eram solteiros, com melhor nível de instrução, empregados e com histórico familiar de alcoolismo em parentes de primeiro grau.

Não houve nenhuma correlação significativa entre presença de doença mental e alcoolismo. Mesmo assim, há indícios de confirmação da hipótese de auto-medicação para os transtornos de ansiedade. Os sujeitos do sexo masculino com o genótipo contendo os alelos 1 ou 2 do gene menos ativo ADH2*1 apresentaram risco significativamente maior para o alcoolismo.

Em termos de aspectos genéticos, o alelo ADH2*2 teve ação protetora para o alcoolismo entre os homens aborígines.

Em suma, há indícios neste estudo que confirmam a hipótese de que a vulnerabilidade genética e o sofrimento psicológico são fatores de risco para o alcoolismo.

Constatou-se no estudo que a vulnerabilidade genética esteve relacionada com o gênero sexual e o estresse psicológico interagiu com a idade da amostra.

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