Nalmefeno: avaliação do custo benefício de seu uso como complemento ao tratamento psicossocial na redução do consumo de álcool por pacientes dependentes

CISA – Centro de Informações sobre Saúde e Álcool

O consumo de álcool está relacionado ao aumento do risco de desenvolver prejuízos agudos e crônicos, sobretudo o consumo pesado episódico ou crônico do álcool. Na Europa, está estimado que mais de 2/3 de mortes prematuras de adultos (15 a 64 anos) estão relacionadas de alguma maneira ao consumo abusivo de álcool. Altos níveis de consumo de álcool também impactam nos gastos econômicos seja pelo custo com tratamentos, perda de produtividade e maiores riscos de acidentes e atos violentos. Dessa forma, apesar da abstinência do álcool para pacientes dependentes ser o alvo mais preconizado, a redução do consumo também é considerada um objetivo de tratamento válido nos dias de hoje.

A Agência Europeia de Medicina indica duas estratégias para abordagem desse problema com foco na redução do consumo de álcool: ensaios de intervenções com base na prevenção de recaídas e/ou na redução de danos. Entre as estratégias de prevenção de recaídas se encontra o uso de medicamentos como acamprosato e a naltrexona, que buscam a manutenção da abstinência do paciente depois de já desintoxicado. Já os ensaios de redução de danos consistem em buscar formas de reduzir o consumo por pacientes que não são abstinentes e que seguem consumindo álcool.

O nalmefeno é o primeiro tratamento medicamentoso liberado na União Européia para a redução do consumo de álcool. Sua ação se dá no sistema nervoso central, reduzindo as sensações de recompensa causadas pelo uso do álcool, colaborando assim com a redução do consumo pelos pacientes. É indicado em associação com a assistência psicossocial para pacientes dependentes de álcool e também com alto risco para problemas agudos e danos crônicos relacionados ao consumo (mais de 40 g de álcool puro para mulheres e 60g para homens num único dia – Figura 1). É indicado apenas para quem não requer imediata desintoxicação e que não apresenta sintomas físicos de abstinência.

O estudo acompanhou três ensaios de pesquisa clínica autorizados do Reino Unido com o objetivo de verificar a economia social do tratamento psicossocial sozinho ou associado ao uso do nalmefeno. Para isso foi desenvolvido uma metodologia para mensurar o custo econômico direto do medicamento, o custo de sessões de 20 minutos de assistência psicossocial, e o custo das complicações relacionadas ao álcool. Foram avaliados o tempo de uso do medicamento, ganho de qualidade de vida, benefícios e economias em termos de saúde pública no tratamento de dependência de álcool considerando número de eventos atribuídos ao álcool evitados num período de 1 e de 5 anos. Também foram registrados os efeitos colaterais do nalmefeno, sendo relatado como principais: enxaqueca, náuseas, fraqueza e insônia.

Durante o primeiro ano de tratamento, o uso do medicamento junto com a assistência psicossocial reduziu o número de pacientes com alto risco quando comparado ao grupo que recebeu apenas assistência psicossocial, aumentando o número de indivíduos com baixo risco ou abstinentes. O grupo que recebeu o medicamento teve melhores resultados também com relação aos eventos relacionados a complicações de saúde e mortes.

O custo benefício medido para o “grupo medicamento” também foi melhor do que o “grupo sem medicamento”; nas avaliações de custos, o uso do medicamento impactou economicamente, em nível individual e de saúde pública, por evitar uma série de complicações relacionadas ao alto consumo de álcool. Foram evitados 7.179 adoecimentos e 309 mortes atribuíveis ao álcool por 100.000 pacientes em um período de 5 anos.

O estudo demonstrou que o uso do nalmefeno representa uma solução custo efetiva para o tratamento de pacientes dependentes do álcool com alto risco de problemas relacionados. Ainda, foi evidenciado benefício para saúde pública considerável em reduzir danos relacionados ao consumo de álcool com o medicamento.

Figura1. Definição de dose padrão de acordo com a instituição.

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