De perto ninguém é normal

Quando se fala em doença mental, a primeira imagem que vem à cabeça é a do louco de carteirinha – que não fala coisa com coisa e costuma ter acessos de fúria só controláveis por camisa-de-força ou calmantes potentíssimos. É uma visão parcial e marcada pelo preconceito.

O universo desse tipo de enfermidade é bem mais amplo.

Milhões de homens e mulheres ao redor do mundo são afetados por esses problemas, mas pouquíssimos procuram ajuda. Por dois motivos: boa parte prefere esconder seu sofrimento, com medo de ser estigmatizada, e a maioria nem sequer desconfia de que seus sintomas são de um transtorno mental tratável. Com isso, distúrbios leves, de cura relativamente fácil, podem transformar-se em problemas crônicos e incapacitantes.

Os transtornos de ansiedade, a depressão e os transtornos de pânico são patologias reconhecidas pela Organização Mundial de Saúde. Atingem atualmente 10% dos homens e 20% das mulheres em todo mundo, estatística que tende a dobrar até 2020. Atualmente são a segunda maior causa de pedido de licença médica e de aposentadoria no planeta como doença incapacitante para o trabalho.

Os quadros de depressão dividem-se em leves, moderados ou severos. Um deprimido severo, por exemplo, padece de falta de energia para executar as tarefas mais simples e não vê graça em nada. Sua auto-estima despenca e um inexplicável sentimento de culpa passa a atormentá- lo. Ele tem crises de choro repentinas e pode ser tomado por dores sem causa orgânica definida. Seu padrão de apetite e sono oscila além do razoável. Nos casos mais graves, são recorrentes os pensamentos sobre a própria morte, sendo que cerca de 15% das vítimas cometem suicídio. É um tormento do qual é difícil enxergar a saída.

A maioria de nós não teria nenhum problema moral em tomar uma medicação para dor de estômago ou infecção urinária. Quando se trata de uma indicação para psicoterapia ou prescrição de medicação psiquiátrica a questão já não é tão simples.

As pessoas não são robôs nem têm controle absoluto de suas emoções. A riqueza e complexidade de nossas vidas são imbuídas de sonhos, fantasias, medos e inseguranças inerentes ao ser humano.

Portanto, o que é normal e o que não é? O que é tristeza? O que é depressão? Quantas vezes nos pegamos dizendo “estou deprimido” quando na verdade estamos apenas entristecidos, mais frágeis, possivelmente carentes?! Quem nunca se pegou fazendo um balanço da vida e percebendo que muitas das mudanças significativas foram mobilizadas a partir de uma intensa dor emocional? Aliás, que mudanças na vida se processam sem uma dose de crise? E quando estas crises necessitam de ajuda profissional?

Não somos super-heróis nem superfracassados. Acertamos, erramos, temos dias de alegria e dias de tristeza. Todos nós temos lá nossas manias inconfessáveis, nossos comportamentos inadequados, incoerentes e recorrentes que juramos nunca mais repetir. Quando o sofrimento emocional ou comportamento inadequado atrapalhar de alguma forma nossa rotina ou gerar dúvidas é aconselhável procurar um profissional especializado que poderá avaliar a necessidade ou não de ajuda medicamentosa e/ou psicoterapêutica.

Na maioria das vezes procuramos ajuda por um momento de fraqueza e acabamos por rever crenças que nos fragilizavam e escondiam recursos disponíveis que tínhamos, sem perceber, para vencer obstáculos que antes julgávamos intransponíveis. Portanto, muitas vezes loucura é não procurar ajuda.

Autor: Dorit Wallach Verea / Gabriela Garrido

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