Risco de mortalidade por causas específicas em pacientes com transtornos por uso de álcool

Os transtornos por uso de álcool (TUA) afetam aproximadamente 3,6% da população mundial entre 15 e 64 anos, sendo que menos de 10% desses pacientes recebem tratamento adequado. Como a maioria das doenças psiquiátricas, esse transtorno é considerado mais incapacitante que fatal; no entanto, publicações recentes apontam para um risco de mortalidade geral maior entre aqueles que apresentam TUA quando comparados à população geral.

O conhecimento das causas específicas de mortalidade nesse subgrupo é muito importante e tem implicações clínicas no tratamento dos TUA, como por exemplo a decisão de incluir exames de triagem para verificar a incidência de outras doenças nesses pacientes. As evidências sistemáticas sobre causas de mortalidade específicas entre os indivíduos com TUA ainda eram escassas até recentemente. Essa visão mudou graças à realização de uma metanálise criteriosa (metodologia que permite gerar dados a partir de revisão da literatura). Após uma triagem inicial de 2063 artigos, 193 foram selecionados, dos quais 17 preencheram os seguintes critérios de inclusão: estudos longitudinais; cujos participantes estejam em tratamento e tenham sido diagnosticados com TUA segundo critérios de versões do DSM ou CID*; que tenham abordado causas específicas de mortalidade; e tenham considerado ajustes para idade e gênero em suas análises de resultados.

A partir dos dados agrupados da metanálise, verificou-se que as maiores causas de mortalidade em indivíduos com TUA são: cirrose hepática e transtornos mentais (risco aumentado em 10 ou mais vezes), lesões corporais (risco aumentado em 7 vezes), câncer e doenças cardiovasculares (cujos riscos relativos são aumentados em 2 vezes). Quando comparados os sexos, as mulheres apresentam elevação do risco mais exacerbada, porém há menos dados de literatura disponíveis para análise.

O estudo apresenta também os resultados conforme a prevalência das causas de mortalidade. Entre homens, as causas mais comuns de morte foram: doenças cardiovasculares (27%), seguido de traumas (26%), câncer (16%) e doenças do sistema digestivo (12%); e entre as mulheres: traumas (29%), doenças cardiovasculares (21%), doenças do sistema digestivo (19%) e câncer (18%).

É importante ressaltar que a mortalidade (para todas as causas avaliadas) aumentou com o tempo de doença, e os pesquisadores levantaram a hipótese de que isso esteja relacionado aos piores desfechos dos TUA, como aqueles indivíduos que não conseguem parar ou reduzir o consumo de álcool. No entanto, mais estudos ainda são necessários para entender melhor qual a relação entre a evolução clínica dos TUA e as variações da mortalidade por causas específicas nesse subgrupo (isto porque cada doença pode levar à morte por vias diferentes; algumas mais relacionadas à quantidade de álcool ingerida, como o câncer, e outras ao padrão de consumo, como traumas).

Os autores enfatizam que o tratamento dos TUA deve ser priorizado, pois pode reduzir de maneira expressiva a mortalidade desse paciente, o qual deveria inclusive ganhar maior atenção nos serviços de assistência primária e secundária, para uma identificação e diagnóstico mais precoce, e assim evitando a evolução para quadros de dependência grave e prevenindo seus efeitos nocivos.

Fonte: http://www.cisa.org.br/artigo/5015/risco-mortalidade-por-causas-especificas-em.php

O impacto da abstinência alcoólica no resultado de procedimentos cirúrgicos

Foi estudado um grupo de 42 pacientes com consumo mínimo de álcool de 60 gramas por dia (4 doses), sem doença hepática decorrente, e que seriam submetidos a cirurgia colo-retal eletiva. O grupo foi dividido aleatoriamente em dois grupos: um grupo continuou a ingestão habitual de álcool e o outro grupo recebeu medidas para que se obtivesse abstinência no mês anterior à cirurgia, inclusive com o uso da droga Dissulfiram.

O grupo que recebeu medidas para abstinência desenvolveu menos complicações que o grupo que continuou a ingestão alcoólica, com 32% e 74% de complicações respectivamente. Verificou-se também no grupo de abstinência, uma menor incidência de isquemia cardíaca (23% x 85%) e menor incidência de arritmias (33% x 86%). Foi medido também o stress cirúrgico, através de medidas da pressão arterial, frequência cardíaca, concentração de cortisol e catecolaminas, sendo o stress cirúrgico significativamente menor nos pacientes abstinentes.

Os autores concluíram que um mês de abstinência alcoólica antes de cirurgia eletiva diminui a morbidade pós-operatória em pacientes que abusam do álcool. O mecanismo se relaciona provavelmente a redução de uma resposta exagerada ao stress cirúrgico.

Fonte: http://www.cisa.org.br/artigo/605/-impacto-abstinencia-alcoolica-no-resultado-procedimentos.php

Consumo moderado de álcool reduz o risco de acidente vascular cerebral isquêmico

Já é sabido que o uso moderado de álcool está associado com a diminuição no risco de manifestação de doenças coronárias. Apesar de haver estudos demonstrando haver associação entre o uso moderado de álcool e a diminuição no risco de manifestação de acidentes vascular cerebral isquêmico (AVCI), a sua relação com o risco de manifestação de acidentes vasculares cerebrais (AVC) ainda não é muito clara.

A fim de responder esta questão, os autores investigaram em uma amostra de 3176 sujeitos pertencentes a diversas etnias de 40 anos ou mais de idade a influência do uso de álcool sobre o risco de manifestação de AVCI.

O consumo e álcool foram divididos em quatro categorias: (1) nenhuma dose (< 1 dose por mês no ano anterior ao estudo), (2) consumo moderado (de > 1 dose por mês no ano anterior ao estudo até < 2 doses por dia), (3) intermediário (>2 mas >5 doses diárias) e (4) pesado (> 5 doses diárias). O grupo de nenhuma dose foi utilizado como grupo de referência para o estudo.

A média de idade da amostra foi de 69,1 + 10,3 com predomínio de mulheres (62,8%). Constatou-se redução de aproximadamente 44% no risco de AVCI para aqueles que fizeram uso moderado de álcool. A proteção máxima foi obtida com a ingestão de 1,2 dose de álcool. Notou-se também que o consumo de >2 doses de álcool esteve associado com aumento no risco de AVC hemorrágico.

Constatou-se, assim, um poderoso efeito protetor do uso moderado de álcool sobre o risco de manifestação de AVCI na amostra em questão. Esse efeito protetor parece estar relacionado com o aumento nas taxas de HDL (“colesterol bom”) em decorrência do uso de álcool.

Fonte: http://www.cisa.org.br/artigo/112/consumo-moderado-alcool-reduz-risco-acidente.php

Desmame precoce pode estar relacionado a problemas decorrentes do uso de álcool na vida adulta

O alcoolismo é uma doença que sofre de maneira significativa a influência de componentes hereditários. Há na literatura científica, contudo, a sugestão de que fatores ambientais precoces também interagem nessa dinâmica.

Dentre esses fatores os autores dão destaque ao desmame precoce (ingestão de leite materno por período de tempo menor que 1 mês). Contudo, a relação entre esse fator ambiental e a manifestação de alcoolismo permanece incerta.

Visando esclarecer uma possível interação entre o desmame precoce e a manifestação de problemas relacionados ao uso do álcool na vida adulta, os autores acompanharam por aproximadamente 40 anos um total de 6562 homens e mulheres dinamarqueses.

Dentre os entrevistados buscou-se investigar de que modo se deu a amamentação, se a gravidez foi desejada, o status social dos pais e a ocorrência de internações hospitalares por problemas relacionados ao uso de álcool e por outros problemas psiquiátricos tanto na amostra quanto entre seus pais.

A amostra foi dividida em duas categorias de acordo com a amamentação: desmame precoce, amamentação durando 1 mês ou menos (34% da amostra) e desmame posterior, amamentação durando mais de 1 mês (66% da amostra).

Do total da amostra, 138 indivíduos haviam sido internados por problemas relacionados ao uso de álcool. Desse total, 98 eram homens. Os resultados obtidos pelos autores sugerem haver associação entre desmame precoce e aumento no risco de desenvolvimento de alcoolismo.

Ademais, os autores constataram haver na amostra relação entre o aumento no risco de internação hospitalar por problemas relacionados ao uso de álcool e a ocorrência de gravidez indesejada.

Contudo, os autores falharam em averiguar a relação entre o uso de álcool feito pelas mães durante a gravidez e a manifestação pela prole de problemas relacionados ao uso de álcool.

Não são claros os motivos pelos quais o desmame precoce mostrou-se associado com o risco aumentado de internação por problemas relacionados ao uso de álcool.

Fica a dúvida se esta influência se deu devido a carências nutricionais decorrentes do desmame precoce ou se devido à outros fatores adversos.

Fonte: http://www.cisa.org.br/artigo/292/desmame-precoce-pode-estar-relacionado-problemas.php

Perda de volume do hipocampo devido a uso pesado de álcool

Os efeitos do uso pesado de álcool sobre o cérebro e demais órgãos do humano são alvo de diversos estudos. Entretanto, a ação dessa substância em particular no hipocampo (estrutura cerebral que desempenha importante papel na memória) é tema de divergência entre os cientistas.

Dessa maneira, um grupo de especialistas americanos conduziu estudos por meio de técnicas de neuroimagem a fim de avaliar esse impacto. Ao todo 16 indivíduos foram examinados e divididos em 2 grupos: grupo de dependentes de álcool (grupo DA) (n=8) e grupo de não dependentes de álcool (grupo NDA) (n=8), com média de idade para ambos os grupos de aproximadamente 47 anos.

O grupo DA foi caracterizado pelos seguintes critérios: uso pesado crônico de álcool (5 ou mais doses diárias por ao menos 3 dias semanais e 3 semanas por mês por 9 meses); uso pesado recente (5 ou mais doses diárias ao menos 3 dias semanais nos 30 dias que antecederam a entrevista) e dependência de álcool pelo DSM-IV. O grupo NDA, por sua vez, foi construído a partir dos seguintes critérios: <2 doses diárias por não mais de 3 dias por semana, 4 semanas por mês durante 9 meses do ano que antecedeu a entrevista; ingestão de menos de 2 doses diárias não mais de 3 dias semanais pelos últimos 30 dias e não preenchimento dos critérios de dependência de álcool pelo DSM IV.

Os autores constataram que o volume médio do hipocampo e o volume esquerdo dessa estrutura apresentaram de maneira significativa um volume menor no grupo DA do que no grupo NDA. Ademais, essas reduções de volume se mostraram independentes do volume intracranial e total do cérebro. Por fim, os autores sugerem a realização de estudos com amostras maiores a fim de dimensionar de maneira mais clara os impactos do uso pesado de álcool no hipocampo.

Fonte: http://www.cisa.org.br/artigo/332/perda-volume-hipocampo-devido-uso-pesado.php

Atitudes restritivas dos pais pode prevenir o uso de álcool por menores de idade?

O consumo de álcool por menores de idade implica sérios riscos para a saúde, com maior chance de abuso e dependência de álcool e outras substâncias no futuro, para acidentes de trânsito e mortes prematuras. Entre as medidas preventivas ao consumo precoce de álcool, destaca-se uma vertente promissora, cujo foco são pais de adolescentes, com ações realizadas especialmente em escolas. Acredita-se que a alteração do comportamento, normas e atitudes dos pais pode impactar positivamente na redução do consumo de álcool por adolescentes.

A estratégia elaborada pelo programa Örebro Prevention Programme (OPP) consiste em reuniões com pais e professores com 30 minutos de duração, realizadas semestralmente em escolas. Nessas reuniões é indicado que os pais adotem postura de tolerância zero para o consumo de álcool pelos adolescentes, deixando claro para os menores de idade quais são as regras e possíveis sanções aplicadas caso o combinado não seja cumprido. O programa demonstrou resultados positivos em estudos anteriores para a prevenção do uso nocivo de álcool, reduzindo a frequência de episódios de embriaguez.

Com o objetivo de entender o mecanismo responsável pelo sucesso do OPP, o presente estudo analisou qual seria o papel das atitudes restritivas dos pais na obtenção dos resultados positivos, os quais foram redução dos episódios de embriaguez e o retardamento do beber regular (ao menos um episódio de embriaguez por mês). Para isso, 653 adolescentes com idade entre 12 e 13 anos e 524 pais preencheram questionários no início do estudo, após 18 meses e 30 meses. Além disso, variáveis que pudessem confundir os resultados, como gênero, status imigratório, qualidade de relacionamento com pais e uso de álcool por pais e colegas foram incluídas nas análises.

As atitudes dos pais foram classificadas conforme quatro opções, desde “muito lenientes” (consideram natural a curiosidade dos filhos para experimentar álcool e acreditam que fazem uso responsável) até “muito rigorosas” (consideram que menores de idade jamais podem consumir de álcool e nem deveriam se preocupar com isso). Os adolescentes responderam quantas vezes consumiram álcool até se sentirem alcoolizados no último mês, o que foi acompanhado ao longo do estudo para observar mudanças no padrão daqueles que iniciaram o hábito de beber mensalmente. Os adolescentes também responderam com qual frequência observam os pais e colegas consumirem álcool e sobre a qualidade de relacionamento com os pais. Para comparações de resultados, um grupo de pais recebeu a intervenção, isto é, participou das reuniões, e o outro não recebeu.

Constatou-se que no grupo sem intervenção os adolescentes evoluíram com mais episódios de embriaguez, enquanto no grupo com intervenção, adolescentes reduziram a frequência de episódios de embriaguez ou iniciaram mais tardiamente. Como resultado principal, cerca de 50% do resultado positivo do programa foi atribuído às atitudes restritivas dos pais, o que representa um papel robusto. Por outro lado, demais mecanismos adjacentes podem ser fonte de futuras pesquisas. Por exemplo, de forma interessante, os pais que receberam a intervenção mantiveram mais atitudes restritivas ao longo do tempo, enquanto o grupo que não recebeu evoluiu com menos atitudes restritivas frente ao uso de álcool por seus filhos. Além disso, foi observado que pais imigrantes ou que possuem má relação com filho tendem a adotar posturas menos restritivas. Talvez, pais que vivenciam relacionamento ruim com os filhos se sintam menos empoderados e tenham menor expectativa em relação a eles.

Conclui-se que atitudes mais restritivas dos pais, em vigência da intervenção do OPP, criaram ambiente desfavorável ao consumo de álcool e foram assim eficientes na prevenção do uso nocivo, ao reduzir e retardar o consumo de álcool por menores de idade.

Fonte: http://www.cisa.org.br/artigo/6981/atitudes-restritivas-pais-pode-prevenir-uso.php

Triângulo amoroso

Cada vez mais os bichos de estimação ganham status de membros da família e chegam a das uma mãozinha, ou melhor, uma “patinha” na vida de muitos casais.

Diário de São Paulo – 18/09/2005

Putz, virei minha mãe!

Confesse: pelo menos uma vez na vida você já se pegou pronunciando essas palavras.

Revista Uma

Consumo de álcool por idosos cresce no país

Quando o assunto é o uso de drogas ou substâncias que geram vícios por idosos, pouco se é falado. Porém há uma estatística crescente no mundo de que pessoas com ais de 60 anos estão ingerindo cada dia mais bebidas alcoólicas e outras drogas.

De acordo com o Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (CISA), organização não governamental que se destaca como uma das principais fontes no Brasil sobre o tema, a prevalência crescente de problemas decorrentes do uso de álcool e outras drogas entre idosos é preocupante.

O assunto chama a atenção de profissionais da área da saúde devido ao aumento observado no número de admissões em unidades de pronto-atendimento e busca por tratamento associados a uso dessas substâncias. No entanto, faltam estudos científicos que avaliem esta questão de forma abrangente.

Em Itatiba, dos 1834 pacientes inseridos no Centro de Atenção Psicossocial – Álcool e Drogas (Caps-AD), 70% são homens, sendo que 6,92% têm idade igual ou superior a 60 anos.

Desde 2011, passaram pelo Caps-AD 127 pacientes com mais de 60 anos. Segundo o coordenador do Caps-AD, dr. Remus Marin Stancu, o vício mais recorrente entre estes atendidos é o álcool, podendo apresentar, conjuntamente, problemas com outras substâncias.

PESQUISAS E ANÁLISES

No Brasil, os dados de uma pesquisa realizada pelo Núcleo de Epidemiologia Psiquiátrica do Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP são preocupantes. Cerca de 12% dos entrevistados com mais de 60 anos foram classificados como bebedores pesados (consumo de mais de 7 doses por semana),10,4% como bebedores pesados episódicos (considerado por este estudo como o consumo de mais de 3 doses em uma única ocasião) e quase 3% foram diagnosticados como dependentes.

Verificou-se, também, que o padrão “beber pesado episódico (BPE) e os transtornos relacionados ao álcool (abuso e dependência)” em idosos estão mais associados ao sexo masculino e economicamente desfavorecidos.

Em paralelo, as idosas representam um subgrupo que merece atenção específica, já que para elas a progressão do uso à dependência tende a ocorrer mais rapidamente e as consequências adversas iniciam-se mais precocemente.

Além disso, as idosas estão especialmente mais propensas que os homens a utilizar medicamentos de prescrição como tranquilizantes, analgésicos, sedativos, estimulantes e antidepressivos.

Entre as principais causas, os chamados estressores psicossociais desencadeadoras do abuso de drogas, são a aposentadoria, a solidão, a viuvez, o isolamento social e alguma doença crônica. A aposentadoria normalmente leva a uma queda grande do nível de vida, e isso acaba gerando muita perturbação emocional. O uso por automedicação prolongada de tarjas pretas também facilita o abuso de drogas ilícitas.

VULNERABILIDADE EMOCIONAL

O tratamento para dependentes químicos segue o mesmo padrão, acrescido do cuidado aumentado junto ao idoso pela sua maior vulnerabilidade emocional, bem como medicações, pois normalmente existem doenças crônicas associadas.

Muitos procuram tratamento por causa de outras doenças que se agravam com o abuso das drogas. O resultado do tratamento entre idosos é mais delicado, pois eles são muito mais doentes e vulneráveis que os jovens, e o que é pior: muitos são abandonados pela família, pelo estado e pela sociedade.

Em Itatiba, os familiares são convidados a frequentar o Grupo de Família para a orientação e acompanhamento adequados. Além destas opções, alguns casos são acompanhados através da modalidade intensiva e semi-intensiva.

Fonte: http://www.cisa.org.br/artigo/7205/consumo-alcool-por-idosos-cresce-no.php