Relacionamento: o jeito de falar muda tudo

Tudo é comunicação. O silêncio perante a fala do outro, a verborragia incessante, a retirada do recinto em meio a uma discussão acalorada, um olhar, um suspiro, uma crise de choro, tudo comunica algo.

Como se já não bastasse tal profusão de sinais emitidos, ainda convivemos com outra grande confusão: comunicar nem sempre garante que o ouvinte entendeu exatamente o que queríamos dizer, mostrar, denunciar. Visto que um mesmo objeto pode ser definido das mais variadas formas por pessoas diferentes, o processo de comunicação equivale a um imenso balaio de gatos em que o mais usual é que cada um permaneça preso aos seus modos particulares de ver o mundo, encaixando tudo o que ouve, vê e sente a este pano de fundo perene, à ideologia vigente dentro de si. Corremos o risco de ouvir mais a nós mesmos do que ao outro se não cuidarmos bem da questão.

No contexto da psicoterapia de casal, em que as queixas sobre o comportamento alheio costumam constituir as primeiras sessões, é imperativo que o terapeuta apresente certa habilidade para que as pessoas envolvidas migrem da posição de queixosas para regiões mais palatáveis – onde no lugar das críticas e exigências brotem pedidos.

Quando nos colocamos em uma posição crítica, é natural que o outro se defenda, faz parte dos mecanismos básicos de sobrevivência animal. Daí que, se de fato queremos resolver uma questão, é mais inteligente que, antes, nos acalmemos para que o outro inclusive tenha condições de entender o que este ou aquele comportamento nos causa no âmago. Se conseguirmos dizer o que nos machuca e pedir (e não impor) aquilo que está nos faltando, temos maiores condições de avaliar o relacionamento e a nós mesmos. Podemos averiguar se o companheiro ou companheira tem recursos para nos dar o que precisamos ou se, ao contrário, estamos sonhando com metas intangíveis.

Uma pergunta feita amiúde por terapeutas de casal é: você está interessado em ser feliz ou em ter razão? Se a vida for um tribunal em que se precisa estar certo o tempo todo para autoafirmação, costumo sugerir a “solteirice” – já que um salutar relacionamento a dois pressupõe inequivocadamente certa dose de renúncia. É preciso trocar as lentes próprias pelas do outro para que se consiga ver o mundo como o ser amado o vê, ou pelo menos próximo disso. Não está disposto a tal renúncia? Talvez seja o caso então de curtir uma solidão gostosa. Mas, se quiser transformar a si mesmo e a seu relacionamento, algumas dicas podem ser úteis.

A primeira delas é o uso da primeira pessoa do singular – eu. Quando afirmamos “você está acabando com a minha vida”, estamos atacando, culpabilizando e nos infantilizando – já que, surpresa, ninguém acaba com sua vida, foi você quem se deixou levar. Se dissermos “eu me sinto profundamente desrespeitado (a) quando você age assim”, a mensagem não é de ataque ou julgamento mas, isto sim, de posicionamento. E se conseguimos dizer “vamos tentar agir de outra forma para salvar o nosso relacionamento, ao qual prezo muito”, a mensagem é de amor. Mas não adianta ensaiar ou proferir frases feitas se o espírito ainda estiver imbuído do desejo de vencer a competição. É preciso se perguntar o quanto está disposto a contemporizar, pois uma frase romântica dissonante da atitude corporal, do tom de voz e da doçura (ou fel) do olhar gera o que mais comumente se vê em consultório: a mensagem dupla.

As mensagens duplas contêm um enorme poder de destruição. Quando se diz a um filho “eu não estou brava” aos berros, pode-se estar criando uma relação monstruosa, já que o germe da loucura se instala: devo acreditar no que mamãe fala ou na cara dela? E, se não está brava, por que gritou? Mas se eu não acreditar, quer dizer que mamãe é mentirosa? Mamãe sempre fala pra eu não mentir; provavelmente o errado sou eu – e eis um candidato a não acreditar em suas percepções no futuro, no melhor dos casos. E por aí vai. Dependendo das predisposições de cada um, o circo está armado, e muitas vezes graves quadros serão instalados a partir de uma suposta bobagem do dia a dia.

Nos relacionamentos afetivos, o rastro de destruição da mensagem dupla não é diferente. Portanto, sejamos claros e corajosos. Não é preciso (e nem indicado) um comportamento agressivo ou panfletário para dizer o que se quer dizer.

A relação ideal seria aquela em que nem precisamos falar o que necessitamos porque o outro, que nos observa com a lente do amor, já sabe antecipadamente. Já aconteceu de você estar com sede e começar a procurar discretamente por um copo d’água e uma alma gentil lhe oferecer a água, antes de você falar a qualquer um que estava com sede? Isso só foi possível porque o outro estava atento às suas necessidades e soube, até antes de você mesmo, que uma água fresquinha lhe cairia bem. Que tal observar se seu parceiro ou parceira está sedento em vez de focar única e exclusivamente nas suas necessidades? Um jogo de gentilezas mútuas normalmente comunica mais do que páginas de discurso.

Dorit Wallach Verea é psicóloga, coordenadora da Clínica Prisma, mestre em Psicologia Clínica pela PUC/SP e especialista em Dependência Química pelo Instituto Sedes Sapientiae. É também especialista em Psicologia Psicossomática pela Universidade Paulista/SP.

Discutir relação é negócio complicado

Atmosfera Feminina

As mulheres amam falar e compartilhar com as outras seus próprios problemas: cada vez que falam entre si sentem-se melhores, e compartilhar os problemas com as amigas é um sinal de amizade profunda. Elas têm a necessidade de cuidar, ajudar e dar conselhos.

O perfil do homem é, em certo sentido, oposto ao da mulher. Eles dão mais importância às “coisas” do que às pessoas. Estão interessados em carros esportivos, computadores super-rápidos, dispositivos etc.

Quanto à forma de pensar, eles tendem a permanecer no nível lógico e preferem trazer dados concretos para posterior processamento e análise, enquanto as mulheres geralmente desenvolvem o raciocínio utilizando a discussão como uma maneira de expandir conceitos.

Os homens tendem a ser muito focados em resolver problemas. Para um homem, discutir relação significa que há um problema para o qual se deve encontrar uma solução.

Nenhum sistema é melhor que o outro, eles são simplesmente diferentes e, infelizmente, não são realmente compatíveis.

Essas diferenças criam uma série de mal-entendidos. A mulher é vista como um incômodo, o homem é visto como insensível, reprimido ou introvertido.

Elas, por outro lado, não têm um único nível de discussão; uma discussão pode ser uma maneira de encontrar uma solução, uma forma de expressar uma emoção ou um estado de espírito, para acalmar o estresse, para desabafar, para criar ou reforçar uma amizade ou relacionamento.

Baseados nessas diferenças, discutir relação pode ser facilmente uma bomba-relógio pronta para explodir e ocasionar uma fenda na relação do casal.

Por outro lado, discutir a relação é fundamental para o bom andamento do namoro ou casamento quando o casal é capaz de reconhecer e aceitar as diferenças de gênero.

Algumas dicas importantes:

Quando a mulher quiser discutir relação com seu parceiro deve avisá-lo de que não precisa encontrar a solução porque a solução é ouvir. Fácil de dizer, mas não tão fácil de fazer, pois o homem está condicionado no “botão automático” para resolver problemas. Homens: calma que com um pouco de boa vontade e treinamento funciona.

As mulheres tendem a usar um monte de detalhes e contar todos os passos do ocorrido, enquanto a abordagem do homem é querer saber primeiro os aspectos significativos do problema a fim de determinar o que merece ou não sua atenção para, em seguida, perguntar-lhe os detalhes. Mulheres: estejam atentas para não se perderem nos detalhes e irritar seu par logo de cara.

Para ambos: cuidado com as expectativas. Ao discutir a relação, não esperem que seu parceiro/a tenha a mesma habilidade, jeito ou interesse em lidar com o tema em questão.

Boa sorte!

Dorit Wallach Verea é psicóloga, coordenadora da Clínica Prisma, mestre em Psicologia Clínica pela PUC/SP e especialista em Dependência Química pelo Instituto Sedes Sapientiae. É também especialista em Psicologia Psicossomática pela Universidade Paulista/SP.

Entenda os transtornos alimentares

Atmosfera Feminina

A associação entre comida e afeto permeia nossas vidas desde nossos primeiros momentos fora do útero materno.

É interessante observar o processo de amamentação: mesmo depois de finalizar a sucção, o bebê continua mamando, sem sugar, como se o seio materno fosse uma chupeta. Visto que a necessidade alimentar está saciada, pode-se supor que ele obtenha outros ganhos quando mama: o colo da mãe, o calor do seu corpo, a segurança de ouvir sua voz.

Se pensarmos no nascimento como um evento em parte traumático, é claro que voltar para perto do corpo que foi sua casa durante nove meses pode ser reconfortante. Mas se a conversa estiver parecendo um pouco nostálgica, podemos nos debruçar sobre os dias atuais e nos perguntarmos se continuamos vivendo sob a égide desse mesmo mecanismo – procurando conforto emocional na comida.

É claro que sofisticamos essa busca voraz através dos tempos e elegemos novas mães para substituir a original: a doceria, a pastelaria, a gôndola de chocolates do supermercado mais próximo. As opções gastronômicas são várias, mas elas mascaram uma verdade inconveniente: apesar de crescidos, continuamos a usar a mesma técnica experimentada talvez em nossos primeiros minutos de vida para aplacar o medo, a ansiedade, a raiva ou a dor. Primitivo, não?

Fique de olhos nos transtornos alimentares!

Em alguns casos, a administração dessa delicada relação acaba por gerar sérios transtornos como anorexia e bulimia, ambos passíveis de ocasionar graves danos físicos e psicológicos ao paciente e seus familiares. O tratamento médico deve vir acompanhado do atendimento psicológico exatamente para que a psicoterapia possa oferecer instrumentos de sofisticação desse instinto tão primitivo oriundo de nossas fases mais elementares de desenvolvimento.

A relação travada entre paciente e psicoterapeuta visa criar novos manejos dos sentimentos que não pela compulsão alimentar ou pela necessidade de se livrar dos resultados dela, como acontece na bulimia. Dentre muitos mecanismos psicológicos de defesa que utilizamos, talvez o mais completo, o “top” dos mecanismos, seja a sublimação – capacidade de transformar a angústia em arte, em sonho, em projetos.

Quando se está só, refém da própria voracidade, é difícil enxergar novos horizontes. Em contrapartida, a aceitação e a busca de ajuda especializada abrem novas frentes de sublimação para que sigamos mais ou menos ilesos nessa árdua jornada entre o primitivismo de nossos instintos e a necessidade de nos elevarmos a eles, mandando no nosso consumo e nos tornando mais conscientes da real natureza de nossas fomes. Porque, como já disse o poeta, “a gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte”.

Dorit Wallach Verea é psicóloga, coordenadora da Clínica Prisma, mestre em Psicologia Clínica pela PUC/SP e especialista em Dependência Química pelo Instituto Sedes Sapientiae. É também especialista em Psicologia Psicossomática pela Universidade Paulista/SP.

Vigorexia e compulsão por exercícios físicos

Atmosfera Feminina

A busca de corpos impecáveis parece ser mais um efeito colateral da idealização característica da sociedade brasileira contemporânea.

Diariamente inúmeras imagens ideais pulverizam e bombardeiam nossos cérebros. São corpos perfeitos, peles de camurça, cabelos estonteantes… É raro encontrarmos propagandas nos grandes veículos que retratem pessoas mais “normais” – ou seja, com marcas de expressão, quilinhos a mais, celulites, culotes proeminentes e toda sorte de registros que a vida nos deixa.

Na atualidade, observa-se que o indivíduo só é aceito em sociedade ao estar de acordo com os padrões do grupo. Logo, pessoas não atraentes são discriminadas e não recebem tanto suporte em seu desenvolvimento quanto os sujeitos reconhecidos como atraentes, chegando mesmo a ser rejeitada. Isto pode dificultar o desenvolvimento de habilidades sociais e da autoestima.

Algumas pessoas são diretamente afetadas pelo desejo, crença e busca de tal perfeição. Para alguns, ela é até desejável, mas conscientemente intangível. Para outros, ela é uma meta inexorável. Para estas pessoas não é possível ser amada e desejada se ela tiver um quilo a mais na balança ou um centímetro a mais de cintura.

Corpo perfeito: conflito entre o ideal e o real

O corpo torna-se a referencia mais importante para sua identidade que supera ausência de outros valores de natureza diferente. Ele é associado com a felicidade, sucesso, status social e autoestima, e a relação entre imagem corporal de autoestima é motivo e fonte de angústia. O desejo para o modelo ideal e a não observância provoca um conflito entre o ideal e o real. É a chamada Vigorexia.

A Vigorexia é um transtorno caracterizado pela prática incessante de atividade física associada à prática de alimentação não convencional, na busca por corpos musculosos, sendo mais descrita em indivíduos do sexo masculino, e atualmente o número de mulheres é cada vez maior.

Vem acompanhada também de importante perda de noção da imagem corporal. Ad exemplo da anorexia, em que ocorre uma espécie de deformação da imagem vista no espelho, a vigorexia atua de modo similar, gerando na pessoa uma necessidade premente e incontrolável de exercitar-se mais e mais. E como ela se vê fraca ao olhar-se no espelho, acrescente ao quadro toda sorte de anabolizantes e produtos lícitos ou ilícitos para atingir o grande objetivo traçado.

E eis o que teremos: pessoas profundamente atingidas de forma física, psíquica e socialmente.

Além da vigorexia é cada vez maior o número de pessoas que apresentam também a chamada Ortorexia descrita como um comportamento obsessivo patológico, caracterizado pela fixação por uma dieta pura. Pessoas com esse distúrbio não se importam com a quantidade, mas sim com a qualidade dos alimentos que serão ingeridos, agindo de forma descontrolada pela busca por alimentos puros, de forma que este excesso se torna seu hábito alimentar mais saudável, com a finalidade de que se tenha um bom funcionamento do organismo através desses alimentos.

É preciso de muita negação da realidade para sustentar que “está tudo bem” mesmo que estejamos fazendo muito mais horas de atividade física semanal que o recomendado, mesmo que o assunto “corpo perfeito” tenha tomado toda nossa agenda mental, que ter um corpo perfeito seja nosso único sonho do momento. Segue abaixo sintomas a serem observados:

– Prática excessiva de esporte, que os leva a abandonar tarefas profissionais e sociais.
– Dietas especiais para aumentar musculatura, consumindo inclusive anabolizantes ou esteroides.
– Mudanças bruscas de comportamento sem razão aparente.
– Obsessão por ter um corpo musculoso
– Tem uma imagem desproporcional de si mesmo; sempre se veem frágeis e sem nenhum atrativo físico.
– Passam grande parte do dia pensando em como alcançar um corpo mais musculoso.
– Pessoas muito introvertidas.
– A necessidade imperiosa de ser notado e admirado
– Carência de experiências afetivas reconfortantes ao longo da vida
– Autoestima criticamente baixa
– Autocrítica tirânica

Possíveis Consequências:

– Alterações do metabolismo
– Hipertrofia e/ou deformações ósseas
– Frustração
– Pedra do interesse pelas atividades sociais e familiares
– Dietas desequilibradas, excessivamente ricas em proteínas
– Baixo rendimento ou até fracasso profissional
– Convulsões, enjoos e dores de cabeça
– Lesões hepáticas e cardíacas
– Disfunção erétil, problemas de fertilidade
– Câncer de próstata
– Diminuição da agilidade

A vigorexia deve ser tratada de forma multidisciplinar. A psicoterapia é uma possibilidade de decodificar o pedido por trás do sintoma – que possivelmente é um porta-voz de situações mais complexas do nosso mundo interno. Se a ansiedade inicial for insuportável, medicações também podem ajudar neste período.

Dar o primeiro passo para vencer uma compulsão – via de regra – é a parte mais difícil. Porém, passar a conhecer-se, a amar-se sem ressalvas, a valorizar as relações, os amigos, a quem se ama… Tudo isso não tem preço, é liberdade.

Lembremos que a medida, sempre ela, é a parte mais importante da equação. Para saber se a medida dos investimentos está boa em sua vida, analise se você está cuidando dos vários assuntos importantes em seu contexto ou se está abandonando alguns em detrimento de um único, soberano, que se transformou no seu amo mimado. Se a resposta for “sim” pense se não é o caso de uma revisão. Somos grandes demais para valorizar tanto justamente aquilo que é mais perecível em nossas existências: o corpo físico. Exercitemos nossas almas também.

Dorit Wallach Verea é psicóloga, sócia diretora da Clínica Prisma, mestre em Psicologia Clínica pela PUC/SP e especialista em Dependência Química pelo Instituto Sedes Sapientiae. É também especialista em Psicologia Psicossomática pela Universidade Paulista/SP.

Adultos também são vítimas de bullying e têm carreira prejudicada

HELOÍSA NORONHA – Colaboração para o UOL

Terror nas escolas, o bullying também é um comportamento comum no trabalho

Nunca se falou tanto em bullying. Mas a prática de agredir alguém (verbal, física ou psicologicamente) não é comum somente nas escolas. Gente que há muito tempo passou dessa fase usa esse artifício para neutralizar o desempenho e autoestima de colegas no meio corporativo. São profissionais que costumam ter atitudes nada louváveis e incompatíveis com seu currículo, como isolar um colega, zombar de alguma característica, inventar fofocas, boicotar em reuniões ou ridicularizá-lo por sua orientação sexual, política ou religiosa.

É óbvio que pessoas que passam tantas horas por dia em uma mesma empresa tendem a desenvolver vínculos que, uma vez ou outra, acabam descambando para o gracejo ou a gozação explícita. No caso do work place bullying (sim, a prática já ganhou nome próprio), porém, as piadas são feitas com o objetivo de ferir a autoconfiança alheia ou se exibir para o resto da equipe. “Aspectos intelectuais nem sempre estão ligados ao desenvolvimento emocional. Alguém competente pode ter um padrão de comportamento imaturo e ser inseguro”, comenta Dulce Helena Cabral Hatzenberger, coordenadora do Departamento de Psicologia do Trabalho da Faculdade de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS).

Para a psicóloga Dorit W. Verea, diretora da Clínica Prisma – Centro de Prevenção e Tratamento em Saúde Emocional, de São Paulo, algumas pessoas não amadurecem, só envelhecem. “A maturidade nos traz a consciência de que ninguém é melhor do que ninguém em absoluto. Geralmente, as pessoas que praticam o bullying adulto depositam suas forças quando têm receio pelos êxitos dos demais. Há um sentimento de irritação, de rancor, em relação ao sucesso que o outro possa ter”, pondera.

Segundo a opinião de Dorit, o agressor seria, portanto, um invejoso ressentido com baixa autoestima. “Esse agressor tem claras as suas limitações. Está consciente do perigo constante a que está submetido em sua carreira. É o conhecimento de sua própria realidade o que o leva a destroçar as carreiras de outras pessoas. Pode-se somar o medo de perder privilégios e esta ambição empurra a eliminar obstáculos”, afirma.

Não permita que outras pessoas te desequilibrem emocionalmente. Posicione-se.

Marcia Bandini, diretora da Associação Nacional de Medicina do Trabalho (Anamt),  diz que existem muitas explicações para casos assim. “Em alguns, a pessoa pratica o bullying simplesmente porque tem a oportunidade de fazê-lo. Mais frequentemente, esse tipo de comportamento é uma tentativa de se promover em cima do outro. São técnicas que podem funcionar por algum tempo, mas nunca perduram em bons ambientes profissionais”, afirma.

O problema levanta duas questões importantes. Quem pratica bullying na idade adulta fez o mesmo quando criança? Ou foi alvo e quer sublimar a baixa autoestima? De acordo com os especialistas, a relação pode existir, mas não devemos generalizar. É claro que existe uma tendência de que as pessoas repitam comportamentos. Só que isso não é regra. “Muitas pessoas que sofreram bullying na infância conseguiram superar os sentimentos negativos. Isso evita que o bullying seja repetido na idade adulta”, esclarece Marcia Bandini.

Já George Barbosa, presidente da Sociedade Brasileira de Resiliência (Sobrare), acredita que essa não é uma relação de causa e efeito. “Eu acredito que duas situações se encontram: um ambiente com uma ética duvidosa e uma pessoa com fracas convicções sobre seus valores. O resultado é a contaminação e a pessoa aderir ao comportamento da empresa”, diz.

Vire a mesa

Mas se na escola as crianças vítimas de bullying podem –quando têm coragem– contar com o apoio de pais e professores, a quem recorrer para lidar melhor com a intimidação ou a zombaria incômoda no trabalho? A psicóloga com abordagem cognitiva Vivian Behar, de São Paulo, dá o clássico exemplo da competitividade em reuniões para sugerir o que fazer.

“Nas reuniões importantes o clima costuma ser de salve-se quem puder. Cada um que queira subir de cargo numa empresa tem de se defender sozinho e não esperar passivamente que outro lhe dê passagem. Quem se vê como vítima de bullying numa situação dessas deve avaliar se é a primeira vez que se sente assim, e, nesse caso, falar com a pessoa que o maltrata.

Adultos podem (e devem) lutar por seus espaços. Mude as situações que lhe incomodam.

A psicóloga salienta que é sempre importante que um adulto se posicione sem medo, seja com suas ideias profissionais, seu credo, raça, sexo… “Isso depende mais da sua autoconfiança, da disposição de perder um emprego, amigo, time e buscar novos lugares. Crianças dependem dos pais para implementar mudanças em suas vidas. Adultos, não. Adultos podem lutar por seus espaços”, avisa.

Também há quem tenha muita dificuldade de lidar com o que é diferente, o que faz com que o bullying adulto navegue nas águas turvas do preconceito. Há pessoas que sentem-se mais confortáveis entre iguais porque não são desafiadas ou confrontadas em suas crenças e comportamentos. As empresas, na visão dos experts, devem trabalhar no sentido de que a diferença seja vista como algo que desperte o interesse, em vez de temor.

Para Dorit, as corporações precisam ter consciência de que bullying no trabalho é um problema sério e recorrente. “O bullying é mais do que um ataque ocasional de raiva ou briga. É uma intimidação regular e persistente. E é frequentemente aceita ou mesmo encorajada como parte da cultura de muitas organizações.”

Dorit diz que é importante investir no relacionamento entre os colaboradores (inclusive fora do horário de trabalho). Estabelecer um código de conduta a ser seguido por todos, conversar com as partes envolvidas separadamente e em conjunto e criar um canal para que o funcionário possa denunciar o fato. No plano individual, cada um deve trabalhar para que exista um clima saudável na empresa e se esforçar para, no mínimo, aprender a lidar com as diferenças.

Mortes de Champignon e Chorão expõem riscos da fama

Diário Catarinense

Para psiquiatras, temperamento e estilo de vida vinculados ao rock podem facilitar ocorrências de overdose ou suicídio

O mesmo estilo de vida que garante fama, dinheiro e diversão também pode facilitar a morte.

O provável suicídio do baixista e ex-integrante da banda Charlie Brown Jr. Luiz Carlos Leão Duarte Júnior, o Champignon, se soma à morte do vocalista Chorão por overdose e ajuda a ilustrar os riscos a que astros do rock se expõem. A combinação de fatores como sensibilidade artística, impulsividade, alta exposição pessoal e – algumas vezes – uso de drogas pode levar esses músicos a um fim trágico.

O psiquiatra Diogo Lara, professor da Faculdade de Biociências da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), afirma que a decisão de se matar é geralmente provocada por uma mistura intrincada de fatores que inclui sensibilidade excessiva, pessimismo, impulsividade e imaturidade. Quem alcança o sucesso no universo da música jovem costuma apresentar duas delas em maior medida: comportamento impulsivo e busca pela realização de desejos. Assim como podem ser elementos positivos de estímulo à criatividade e ao sucesso, também podem favorecer atitudes danosas como suicídio ou abuso de drogas.

Antes dos colegas de Charlie Brown Jr., músicos de diferentes estilos e épocas tiveram finais igualmente precoces, como Janis Joplin, Jimi Hendrix, Raul Seixas, Kurt Cobain, Michael Jackson ou Amy Winehouse. No caso específico de Champignon, Lara acredita que pode ter pesado ainda um fator que ele chama de “desconexão” e é alvo de pesquisas que o psiquiatra realiza atualmente por meio da análise das respostas a um questionário disponível no site do projeto (www.temperamento.com.br).

— Outras características importantes para o suicídio são a desesperança e a sensação de desconexão, de estar um pouco solto no mundo. A morte do antigo líder da banda pode ter contribuído — avalia Lara.

O suicídio recente do ex-colega de Champignon em uma outra banda, o guitarrista Peu Sousa, pode ter reforçado essa sensação de falta de laços. O baixista também teria discutido com a mulher em um restaurante antes de ir para casa e dar um tiro na boca aos 35 anos. Além disso, estaria desgostoso com críticas negativas a seu trabalho atual no grupo A Banca.

A morte de Chorão exemplifica outro tipo de risco a que a vida de rockstar costuma estar sujeita: o uso de drogas. Morto em março deste ano, o vocalista foi vítima de uma overdose de cocaína. O psiquiatra Carlos Salgado, membro do Conselho Consultivo da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e Outras Drogas (Abead), afirma que artistas como Chorão seguidamente têm maior percepção de liberdade, personalidade mais ousada e vontade de experimentação, o que pode ser bom artisticamente, mas danoso caso leve ao abuso de entorpecentes.

— Fama e dinheiro estão relacionados com ousadia, o que é um aspecto saudável, mas pode levar a uma sensação de segurança para experimentar qualquer coisa — alerta Salgado.

Saúde pública e suicídio

Desemprego, separação conjugal e falta de expectativas são fatores de risco

No Brasil há em média 24 suicídios por dia, o equivalente a 9 mil mortes por ano. Uma estatística alta, já que a aids, por exemplo, é causa de pouco mais de 10 mil óbitos. Ao contrário do que ocorre na maioria dos países, o número de suicídios juvenis supera o de adultos, segundo o relatório Mapa da violência/2011, elaborado pelo Instituto Sangari e pelo Ministério da Justiça; e os índices cresceram 17% nos últimos dez anos.

Apesar dos dados, o país não investe em estratégias de prevenção. “Não há campanhas veiculadas na televisão, como as que alertam sobre a transmissão de doenças. O assunto é tido como tabu, e quando uma pessoa é encaminhada ao sistema de saúde público por tentativa de suicídio ela é liberada após se recuperar. Um em cada quatro pacientes tenta se matar outra vez em menos de um ano”, diz o psiquiatra Antônio Geraldo da Silva, presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), ressaltando que, entre a população indígena, há 20 suicídios para cada 100 mil mortes, o equivalente a quatro vezes a média nacional.

Os altos índices de suicídio entre a população economicamente ativa podem ter impactos sociais a longo prazo. Para cada suicídio, cinco a dez pessoas, entre parentes, vizinhos e colegas de trabalho, desenvolvem transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), o que gera afastamento do trabalho e gastos com medicamentos e favorece os fatores de risco para o comportamento suicida. Suécia, Estados Unidos, Irlanda e Japão, por exemplo, consideram o comportamento suicida urgência médica. No país escandinavo, as mortes foram reduzidas em 39,5% nas últimas duas décadas graças a estratégias como tratamento de pessoas diagnosticadas com depressão e dependentes de álcool, restrição ao acesso dos métodos mais comuns de suicídio, como pesticidas, e, no caso de tentativa, acompanhamento de psicólogos e assistentes sociais por meio de telefonemas e visitas domiciliares.

Os sintomas de risco de suicídio se confundem com os de transtornos de humor. A comorbidade é de mais de 90%. Segundo Silva, o principal indício é uma primeira tentativa. “Ela geralmente é precedida de outros comportamentos autolesivos e da expressão de pensamentos suicidas”, diz. Estes costumam ser fatores de risco, que podem tomar maiores proporções em caso de desemprego, separação conjugal e anomia (estado de falta de objetivos e expectativas). Pesquisadores do Laboratório de Saúde Mental e Medicina da Universidade Estadual de Campinas (LSMM-Unicamp), em parceria com o Ministério da Saúde, elaboraram uma cartilha de prevenção direcionada a profissionais da saúde mental, disponível no endereço http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_editoracao.pdf.

Fonte: Revista Mente e Cérebro

A cirurgia de redução do estômago pode levar a depressão, bulimia, anorexia e alcoolismo, entre outras doenças psiquiátricas

Ao longo dos últimos dez anos, quadruplicou o número de obesos mórbidos no Brasil. Com 45 quilos ou mais além do limite recomendável para o seu biotipo, 2 milhões de homens e mulheres estão naquele estágio em que a gordura pode causar complicações que levam à morte. Nesses casos, emagrecer é urgente e o método mais rápido e eficaz para eliminar quantidades tão grandes de tecido adiposo é a cirurgia bariátrica – a fim de limitar a ingestão e a absorção de alimentos pelo organismo do paciente, os médicos reduzem drasticamente o tamanho do estômago. Trazida para o Brasil no fim da década de 70, a cirurgia bariátrica começou a ser realizada em maior escala a partir de 2000, quando alguns seguros particulares e a rede pública de saúde passaram a pagar os custos do procedimento. Hoje, o país só perde para os Estados Unidos em número de procedimentos desse tipo. Todos os anos, 15.000 brasileiros têm o estômago diminuído. O efeito costuma ser impressionante. Passado um ano da operação, perdem-se, em média, 40% do peso inicial. Muitos pacientes continuam gordos, mas todos saem do patamar da obesidade mórbida. A redução do estômago é uma cirurgia de alta complexidade e, como tal, implica perigos. Um deles é a obstrução do intestino dias depois do procedimento. Há, porém, um tipo de complicação pós-operatória que não se relaciona ao ato cirúrgico em si – e sobre o qual pouco se fala. São os transtornos psiquiátricos. Para cerca de 20% dos operados, a conquista da magreza leva a depressão, bulimia, anorexia, alcoolismo, dependência de drogas ou compulsão por jogo, compras ou sexo.

Poucas intervenções são tão radicais quanto as cirurgias de emagrecimento. O estômago reduzido perde até 90% de sua capacidade de absorção. O paciente, antes habituado a consumir até 1 quilo de comida por refeição, vê-se obrigado a satisfazer-se com 100, no máximo 200, gramas, e a voracidade precisa ser substituída pela paciência de mastigar dezenas de vezes uma única garfada. Comer em excesso ou demasiadamente rápido causa um tremendo mal-estar, cujos sintomas vão de náuseas e vômito a taquicardia, engasgos e fraqueza. Um estômago menor requer, assim, disciplina física e reorientação psicológica. O operado tem de aprender a viver e pensar como magro, o que não é fácil. Por esse motivo, diferentemente do que muita gente imagina, o tratamento cirúrgico da obesidade não se encerra com a alta hospitalar. “Esses pacientes requerem acompanhamento para o resto da vida”, diz o cirurgião Arthur Garrido, professor da Universidade de São Paulo e pioneiro no Brasil das operações bariátricas. Sem o monitoramento de uma equipe de especialistas, aumentam os riscos de manifestação de transtornos psiquiátricos.

Grande parte dos obesos sofre de compulsão por comida. Submetidos à cirurgia bariátrica, eles não podem mais comer como antes, mas continuam compulsivos – o que faz com que desenvolvam outros distúrbios afins, num processo de compensação. A substituição de uma compulsão por outra é resultado da conjunção de dois fatores. O primeiro deles é de ordem orgânica. Nesses pacientes, a resposta do estômago à ação do hormônio da saciedade é tímida. Além disso, eles são mais suscetíveis ao hormônio da fome (veja quadro). Ou seja, naturalmente sentem mais apetite e têm mais dificuldade para se fartar do que os magros. Os obesos compulsivos por comida sofrem ainda de outro descompasso na química cerebral. Eles produzem poucas quantidades de dopamina e serotonina, substâncias associadas à sensação de bem-estar, determinantes na cadeia de comando cerebral que estabelece o momento de parar de ingerir alimentos por prazer. O resultado disso é que, por mais que comam, nunca estão satisfeitos. Somam-se a esse desequilíbrio neuroquímico fatores psicológicos que fazem com que a comida sirva como válvula de escape para a falta de auto-estima que acomete os obesos. Instala-se, então, um círculo vicioso. “Quando essas pessoas são privadas da comida, por causa da cirurgia, elas buscam novas formas para satisfazer suas carências psicológicas”, diz Marlene Monteiro da Silva, psicóloga do Hospital das Clínicas de São Paulo. A dona-de-casa Ana Lúcia Reis dos Santos, de 42 anos, trocou a comida pelas compras. Em 2002, com 115 quilos em 1,62 metro, ela submeteu-se à operação de redução do estômago. Um ano depois, 50 quilos mais leve, quando começou a refazer o seu guarda-roupa, Ana Lúcia se deu conta de que, apesar da silhueta alinhada, continuava doente. “Eu fazia compras com a mesma voracidade e aflição com que comia”, lembra. Com psicoterapia e antidepressivos, Ana Lúcia acredita que, em breve, será uma mulher magra com uma conta bancária mais gorda.

As mudanças de hábitos impostas pela redução do estômago podem ser tão penosas que alguns pacientes pedem que a cirurgia seja desfeita – o que nem sempre é possível. Outros criam estratégias para driblar as limitações impostas pelo estômago reduzido e saciar a vontade de comer. A maioria escolhe o leite condensado – que é pastoso, calórico, sacia rapidamente e pode ser digerido com facilidade. Os compulsivos, evidentemente, tomam litros por dia. O comerciante J.S., de 42 anos, enveredou por um caminho mais perigoso. Submetido à cirurgia bariátrica em 1997, um ano depois ele começou a beber. Em pouco tempo, transformou-se num alcoólatra e praticamente parou de comer. Com 1,92 metro de altura, chegou a pesar 78 quilos – 112 menos do que quando foi para a mesa de operação. Com problemas hepáticos e conflitos no casamento por causa da bebida, há um mês ele decidiu finalmente procurar ajuda. Está em tratamento com um psicólogo e um psiquiatra. “Ainda não sei o que é pior: se a obesidade ou o alcoolismo”, diz, com a voz embargada. Os arquivos dos principais hospitais e clínicas especializadas em cirurgia bariátrica guardam dramas ainda piores. Há vários casos de pacientes que, em profunda depressão, cometeram suicídio.

Os transtornos psiquiátricos costumam se manifestar entre o primeiro e o terceiro ano subseqüentes à redução do estômago. É quando, passado o entusiasmo com a nova silhueta, os ex-obesos têm de confrontar as limitações que serão para toda a vida. Nesse momento é que, na falta de apoio, o compulsivo volta a manifestar sua doença. A produtora Alessandra Cucatti Sarilho, hoje com 21 anos, tinha 145 quilos acumulados em 1,65 metro de altura quando fez a redução do estômago, em 2001. A euforia com o novo corpo durou dois anos. Depois disso, Alessandra desabou. “Passei a sentir aquela tristeza dos tempos em que eu era gorda”, diz. Ela, então, voltou a comer vorazmente, o que lhe causava mal-estar e culpa. A trilha estava aberta para que se tornasse uma bulímica.

Alguns psiquiatras defendem a tese de que as operações bariátricas podem favorecer o surgimento de transtornos alimentares que merecem ser estudados com mais cuidado, apesar de sua semelhança com distúrbios conhecidos. Na anorexia clássica, o doente não come porque se vê mais gordo do que realmente é. Na bulimia tradicional, ele come, mas procura se livrar da comida induzindo o vômito ou tomando laxantes. “Há, entretanto, uma diferença crucial entre esses transtornos e os que se manifestam nas pessoas que passam pela cirurgia: a motivação para tais comportamentos”, diz Adriano Segal, psiquiatra da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade (Abeso). “Esses pacientes desenvolvem um tipo de anorexia e de bulimia que ainda não foram descritos na literatura médica. Eles deixam de se alimentar não por uma percepção distorcida do próprio corpo, mas porque têm medo de voltar a engordar.” Apesar de sutil, essa distinção é essencial para que se criem métodos de tratamento específicos – tanto remédios como terapias – para os ex-obesos que sofrem de tais males.

Giuliana Bergamo

Fonte: http://veja.abril.com.br/

Países integrantes da OMS fecham acordo para combater comércio ilegal de tabaco

Depois de quatro anos de negociação, a maioria dos países integrantes da Organização Mundial da Saúde (OMS) chegou a um acordo sobre as normas comuns para combater o tráfico ilegal de produtos derivados do tabaco. O texto estabelece monitoramento da cadeia de produção e a criação de um sistema global para rastrear cigarros e outros produtos do tabaco, conforme comunicado da entidade.

O acordo prevê também normas para troca de informações e assistência jurídica entre os países. Dos 147 países-membros da OMC, pelos menos 135 concordam com as diretrizes acertadas.

De acordo com a organização, o comércio ilegal contribui para o aumento no número de fumantes ao redor do mundo, pois facilita o acesso ao tabaco e enfraquece os programas antitabagistas. O texto será submetido à votação na conferência da OMS marcada para novembro, em Seul, na Coreia do Sul.

Carolina Pimentel

Fonte: Agência Brasil – Brasilia

Maus hábitos de saúde causam infertilidade, aponta estudo

A infertilidade tem uma estreita relação com hábitos nocivos à saúde, como tabaco, álcool, estresse e o consumo de medicamentos, segundo afirmou à Agência Efe a ginecologista e especialista em reprodução assistida Silvia Alvarez, que trabalha na clínica francesa La Muette, em Paris.

A constatação da médica foi baseada num estudo que será publicado nas próximas semanas e que utilizou como amostra 348 casais que recorreram a técnicas de reprodução assistida em 43 departamentos franceses. O objetivo foi determinar o peso das condições ambientais e do modo de vida na infertilidade.

Na pesquisa, realizada pelo grupo de especialistas em fertilidade Procreanat, observou-se que os participantes, todos com problemas de fecundidade, consumiam mais álcool, tabaco e maconha do que a média da população.

Além disso, constatou-se que eles eram pessoas com problemas de estresse relacionados ao trabalho e à sua própria vida sexual, pois diante da dificuldade para conceber um filho mantinham mais relações nos períodos de ovulação. Além disso, os homens se sentiam pressionados durante o ato sexual, o que fazia com que engravidar fosse ainda mais difícil.

Muitos dos participantes recorriam a remédios como antidepressivos e para queda de cabelo, o que aumentava seus problemas de fertilidade. “Grande parte das dificuldades que os casais com problemas para ter filhos enfrentam se resolveriam com atitudes mais saudáveis e prevenção”, afirmou Silvia.

A médica já tinha realizado um estudo semelhante com 380 casais, entre 2005 e 2009, que chegou à mesma conclusão. Segundo Silvia, a fertilidade dos pacientes que aceitavam mudar seus maus hábitos melhorava entre três e seis meses depois. Nesse intervalo de tempo, aumentou em 35% o número de gravidezes espontâneas, sem nenhum tratamento de fertilidade envolvido.

“O principal impedimento é a idade da mulher: ser mãe se torna mais complicado a partir dos 30 anos”, explicou Silvia, apesar de admitir que atualmente “é difícil ter filhos antes dessa idade”.

Por isso, a especialista insiste na importância de se melhorar os hábitos alimentares e sociais, para evitar “tratamentos custosos e inúteis, incluindo a fecundação in vitro”, que poderiam ser substituídos simplesmente “apostando na prevenção”.