Autossabotagem no trabalho: aprenda a identificar

Numa época em que o individualismo e a competitividade são encarados como bons olhos para ascensão profissional é de se esperar que, muitas vezes, as pessoas não “joguem tão limpo” quanto deveriam. Sem um crivo moral mais rígido, é fácil “escorregar” para métodos questionáveis de alcance do sucesso, entre eles a sabotagem.

Diante da sabotagem alheia, o equilíbrio e a autoestima fazem toda a diferença. Quando estamos emocionalmente equilibrados e seguros de nós mesmos é possível identificar a sabotagem e lidar com ela. Quando, ao contrário, estamos emocionalmente instáveis, um evento como esse pode pôr o nosso emprego em risco e, às vezes, até a nossa sanidade mental. Pessoas mais sensíveis costumam se desestabilizar mais facilmente diante de assédio moral e outros tipos de sabotagem. Casos de depressão, transtornos de ansiedade e até sintomas de trauma psíquico são rotinas nos consultórios de psicologia e psiquiatria.

Entretanto, não é só com o inimigo externo que devemos nos preocupar: muitas vezes, a “puxada de tapete” não vem de fora.

Nossos pensamentos podem sabotar nosso crescimento profissional de três formas:

1. Quando julgamos estar sempre em falta, acreditando que deveríamos fazer mais, trabalhar mais ou acertar mais numa dimensão que foge da realidade humana.

2. Quando supervalorizamos cada pequeno trabalho executado e esperamos recompensas imediatas. Pensamos e ressaltamos sempre o que deveríamos ou poderíamos receber.

3. Quando pensamos que talvez não sejamos tratados com o respeito que merecemos e não tocamos no assunto com o RH ou com a chefia por medo de perder o emprego, de parecer arrogante ou por simples falta de coragem.

Na autossabotagem, o medo e a insatisfação mascaram desde déficits na autoestima até culpa por estar feliz. Não é fácil se apropriar e viver a felicidade, dependendo de onde se tenha vindo. Muitas pessoas que viveram dificuldades materiais na infância não sabem exatamente como lidar com o próprio crescimento, especialmente se outras pessoas importantes da família não conseguiram atingir o mesmo progresso.

Ganhamos o que merecemos ou ganhamos o que suportamos receber? Na prática clínica, é comum encontrarmos pessoas se queixando da chefia, dos colegas de trabalho, de seu ambiente profissional, de seus baixos ganhos, assim como das dificuldades em alçar voos apesar dos altos investimentos em especializações, pós-graduações e outros. Possivelmente, em casos assim é preciso investir também na revisão de seus conceitos – que pode ser por meio de psicoterapia ou outro instrumento de introspecção e análise.

Ao resignificar e modificar seus preconceitos em relação a si própria, a evolução no trabalho e em outras áreas é quase matemática de tão certa.

Finalizando, a autocrítica é fundamental para enfrentar a autossabotagem profissional. Alguns pontos a se ater: atrasos em relação a horários e prazos de entrega; desânimo ou má vontade no ambiente profissional; displicência na realização de suas tarefas; entrega de tarefas pela metade, faltas “sempre que possível”. Em momento de crise existencial podem ocorrer alguns dos comportamentos acima descritos, mas se você acha que esse é um padrão repetitivo em sua vida, talvez seja hora de repensar.

Você deve estar disposta a pensar sem medo – pensar se não é hora de mudar de emprego ou profissão ou se, ao contrário, se o melhor a fazer é arregaçar as mangas e tratar com mais carinho sua vida profissional na atual configuração.

Dorit Wallach Verea é psicóloga, coordenadora da Clínica Prisma, mestre em Psicologia Clínica pela PUC/SP e especialista em Dependência Química pelo Instituto Sedes Sapientiae. É também especialista em Psicologia Psicossomática pela Universidade Paulista/SP.

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