Mortes de Champignon e Chorão expõem riscos da fama

Diário Catarinense

Para psiquiatras, temperamento e estilo de vida vinculados ao rock podem facilitar ocorrências de overdose ou suicídio

O mesmo estilo de vida que garante fama, dinheiro e diversão também pode facilitar a morte.

O provável suicídio do baixista e ex-integrante da banda Charlie Brown Jr. Luiz Carlos Leão Duarte Júnior, o Champignon, se soma à morte do vocalista Chorão por overdose e ajuda a ilustrar os riscos a que astros do rock se expõem. A combinação de fatores como sensibilidade artística, impulsividade, alta exposição pessoal e – algumas vezes – uso de drogas pode levar esses músicos a um fim trágico.

O psiquiatra Diogo Lara, professor da Faculdade de Biociências da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), afirma que a decisão de se matar é geralmente provocada por uma mistura intrincada de fatores que inclui sensibilidade excessiva, pessimismo, impulsividade e imaturidade. Quem alcança o sucesso no universo da música jovem costuma apresentar duas delas em maior medida: comportamento impulsivo e busca pela realização de desejos. Assim como podem ser elementos positivos de estímulo à criatividade e ao sucesso, também podem favorecer atitudes danosas como suicídio ou abuso de drogas.

Antes dos colegas de Charlie Brown Jr., músicos de diferentes estilos e épocas tiveram finais igualmente precoces, como Janis Joplin, Jimi Hendrix, Raul Seixas, Kurt Cobain, Michael Jackson ou Amy Winehouse. No caso específico de Champignon, Lara acredita que pode ter pesado ainda um fator que ele chama de “desconexão” e é alvo de pesquisas que o psiquiatra realiza atualmente por meio da análise das respostas a um questionário disponível no site do projeto (www.temperamento.com.br).

— Outras características importantes para o suicídio são a desesperança e a sensação de desconexão, de estar um pouco solto no mundo. A morte do antigo líder da banda pode ter contribuído — avalia Lara.

O suicídio recente do ex-colega de Champignon em uma outra banda, o guitarrista Peu Sousa, pode ter reforçado essa sensação de falta de laços. O baixista também teria discutido com a mulher em um restaurante antes de ir para casa e dar um tiro na boca aos 35 anos. Além disso, estaria desgostoso com críticas negativas a seu trabalho atual no grupo A Banca.

A morte de Chorão exemplifica outro tipo de risco a que a vida de rockstar costuma estar sujeita: o uso de drogas. Morto em março deste ano, o vocalista foi vítima de uma overdose de cocaína. O psiquiatra Carlos Salgado, membro do Conselho Consultivo da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e Outras Drogas (Abead), afirma que artistas como Chorão seguidamente têm maior percepção de liberdade, personalidade mais ousada e vontade de experimentação, o que pode ser bom artisticamente, mas danoso caso leve ao abuso de entorpecentes.

— Fama e dinheiro estão relacionados com ousadia, o que é um aspecto saudável, mas pode levar a uma sensação de segurança para experimentar qualquer coisa — alerta Salgado.

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