Os 13 princípios do NIDA (National Institute on Drug Abuse National Institute of Health)

PRINCÍPIO 1: Um único tratamento não é apropriado para todos os indivíduos.

PRINCÍPIO 2: O tratamento precisa estar prontamente disponível.

PRINCÍPIO 3: Um tratamento eficaz é aquele que atende às diversas necessidades dos indivíduos e não apenas ao uso de drogas.

PRINCÍPIO 4: O tratamento de um indivíduo e o plano de serviços devem ser continuamente avaliados e modificados quando necessário para garantir que o plano atenda às necessidades mutantes da pessoa.

PRINCÍPIO 5: A permanência no tratamento por um período adequado de tempo é essencial para sua eficácia.

PRINCÍPIO 6: Aconselhamento (individual e / ou em grupo) e outras terapias comportamentais são componentes cruciais para um tratamento eficaz.

PRINCÍPIO 7: Medicações são elementos importantes no tratamento de vários pacientes, especialmente quando combinadas com aconselhamento e outras terapias comportamentais.

 PRINCÍPIO 8: Indivíduos com distúrbios mentais que sejam dependentes das drogas devem ser tratados de maneira integrada de ambos os problemas.

PRINCÍPIO 9: Desintoxicação médica é apenas o primeiro estágio do tratamento e por si mesma contribui pouco para mudança a longo prazo de uso de droga.

PRINCÍPIO 10: O tratamento não precisa ser voluntário para ser eficaz.

PRINCÍPIO 11: O possível uso de droga durante o tratamento deve ser monitorado continuamente.

PRINCÍPIO 12: Programas de Tratamento devem proporcionar avaliação para AIDS/ HIV, Hepatite B e C, Tuberculose e outras doenças infecciosas e Aconselhamento para ajudar pacientes a modificarem comportamentos de risco de infecção.

PRINCÍPIO 13: A recuperação da Dependência Química pode ser um processo a longo prazo e frequentemente requer vários episódios de tratamento.

Consumo de álcool entre a menarca e a primeira gravidez: Um estudo prospectivo sobre o risco de câncer de mama

CISA – Centro de Informações sobre Saúde e Álcool

O álcool constitui um fator de risco para câncer de mama invasivo segundo a Agencia Internacional de pesquisa do Câncer, aumentando de 7-10% o risco para cada dose de 10g de álcool (aproximadamente uma lata de cerveja, uma taça regular de vinho e uma dose de destilados) consumido diariamente por uma mulher adulta, mas pouco se sabe sobre o consumo durante a adolescência e começo da juventude.

A menarca (1º menstruação) precoce e primeira gravidez com idade mais avançada são fatores de risco para o câncer de mama porque os tecidos da mama sofrem rápida proliferação nesses períodos. Quanto maior a distância entre a menarca e a primeira gravidez, maior o risco de câncer de mama na mulher pois nesse período a mama está mais propensa a estímulos cancerogênicos.

Para avaliar melhor os efeitos do álcool sobre o risco de câncer de mama no período compreendido entre a menarca e a primeira gravidez foram acompanhados 91.005 enfermeiras registradas no estudo NHSII (do inglês The Nurses Health Study II estabelecido em 1989) com idade entre 25 a 44 anos que responderam um questionário sobre o seu histórico médico e reprodutivo e estilo de vida. Foram excluídas as mulheres que não apresentaram mais de 6 meses de gravidez durante o período do estudo, além das que tiveram diagnóstico de câncer de mama antes de 1989 e as que não completaram os dados adequadamente ao longo do estudo.

Esses questionários foram respondidos a cada dois anos aproximadamente e o histórico do consumo de álcool foi solicitado por faixa etária (15-17, 18-22, 23-30 e 31-40). A resposta do consumo de álcool variava em nove categorias que iam desde nenhuma dose por mês a 40 ou mais por semana. O histórico médico das mulheres que relataram diagnostico de câncer de mama foi verificado nos prontuários e registros patológicos.

Os resultados indicam que 20% das mulheres não ingeriram álcool no período entre menarca e gravidez, enquanto que 4% relataram consumo moderado para alto (15g ou mais por dia). O consumo cumulativo de álcool durante esse período foi associado ao aumento de risco para câncer de mama invasivo quando comparado as mulheres que passaram a beber apenas após a primeira gravidez, sendo encontrado frequência de 197 casos entre mulheres que beberam pelo menos 15g/dia de álcool e 144 casos entre mulheres que não beberam antes da primeira gravidez (ambas frequências representam casos por 100 mil mulheres).

O risco de câncer de mama invasivo nas mulheres que consumiram álcool foi maior entre aquelas com 10 anos ou mais de intervalo entre a menarca e a primeira gravidez do que as que apresentaram intervalo menor que 10 anos. Os resultados foram semelhantes para os tumores benignos de mama, mas nesse caso a associação do consumo de álcool e risco se restringe entre as mulheres com longo período entre menarca e primeira gravidez (298 casos entre as bebedoras e 271 casos entre as abstêmias, ambos por 100 mil mulheres).

Já é sabido que há relação do aumento do risco desse câncer com consumo de álcool na juventude quando comparado consumo mais tardio, mas não havia sido avaliado o período entre a menarca e a primeira gestação. Esse foi o primeiro estudo que não considerou apenas a idade precoce, mas esse intervalo onde existe maior susceptibilidade da mama a estímulos cancerogênicos.

O estudo conclui que o consumo de álcool entre a menarca e a primeira gravidez aumenta o risco de câncer de mama invasivo ou benigno de forma dose dependente (ou seja, maior o consumo, maior aumento do risco) em mulheres com intervalo maior que 10 anos entre a menarca e a primeira gestação. Isso significa que consumir álcool em idade menor pode ter maior efeito no risco de câncer de mama do que quando consumido em idades mais avançadas ou depois da primeira gestação. Logo, reduzir o consumo durante esse período da juventude da mulher pode vir a ser uma estratégia de prevenção para o câncer de mama no futuro.

Fonte: http://www.cisa.org.br/artigo/4789/consumo-alcool-entre-menarca-primeira-gravidez.php

Personalidade e consequências do uso de álcool entre estudantes universitários veteranos

CISA – Centro de Informações sobre Saúde e Álcool

O consumo de álcool entre estudantes universitários associa-se a diversas consequências negativas, como queda do desempenho acadêmico, problemas sociais até doenças e mortes. Diversos traços da personalidade estão sabidamente relacionados ao uso e problemas com álcool, com destaque para quatro: 1 – desesperança (incapacidade para resolver problemas), 2 – busca de sensações (persistência na busca por excitação e prazer), 3 – sensibilidade à ansiedade (medo ou efeitos corporais como aumento dos batimentos cardíacos e do ritmo respiratório) e 4 – impulsividade (tendência de reagir com baixa consideração das consequências).

Há evidências na literatura de que a desesperança, busca de sensações e impulsividade são fatores preditivos de problemas relacionados ao consumo de álcool entre universitários, mas a sensibilidade à ansiedade ainda não possui dados consistentes. Além disso, os efeitos mediadores desses traços de personalidade para o consumo de álcool não foram completamente elucidados.

Esse estudo examinou, por meio de questionários, a presença de três tipos de percepções que agiriam como mediadores do consumo de álcool em estudantes universitários: 1 – normas descritivas (a percepção de que o beber é um comportamento comum em seu meio social, em termos de prevalência, quantidade e frequência), 2 – normas injuntivas (o quanto um indivíduo acredita que seus pares aprovam ou reprovam seu uso de álcool) e 3 – crenças universitárias relacionadas ao álcool (percepção individual sobre a importância do beber na experiência universitária).

Para avaliar a relação entre os traços de personalidade com as percepções descritas acima foram incluídos na pesquisa 875 universitários norte-americanos. Os homens obtiveram maior pontuação na busca de sensações, normas descritivas, crenças universitárias e uso de álcool e as mulheres relataram maior sensibilidade à ansiedade, normas injuntivas e problemas com álcool. Foram encontradas associações diretas positivas conforme a figura abaixo:

Figura 1. Relação entre traços de personalidade, uso de álcool e problemas com uso de álcool: influências diretas e mediadas por percepções sociais

Entre os efeitos diretos encontrados, o traço de sensibilidade à ansiedade esteve negativamente relacionado a normas injuntivas, que por sua vez, esteve negativamente relacionado ao uso de álcool. Alguns achados chamaram atenção e foram replicados em outros estudos:

  • desesperança e impulsividade predizem diretamente os problemas com álcool, mas não o uso de álcool;
  • crenças universitárias tem efeito direto em problemas com álcool e são mediadoras do efeito da busca de sensações e impulsividade para uso e problemas com álcool;
  • normas descritivas e crenças universitárias associaram-se positivamente com o uso de álcool.

Normas descritivas representam um importante fator de risco para aumento do uso de álcool e crenças universitárias estão relacionadas ao maior uso e problemas com álcool. Essas observações podem direcionar melhor as intervenções. Por exemplo, os indivíduos com certos traços de personalidade, especialmente impulsividade e busca de sensações, devem ser ser o foco de intervenções de prevenção, as quais também devem ser aplicadas para aqueles estudantes que persistem com problemas no uso de álcool apesar de terem recebido intervenções genéricas, ou seja, que não considera sua predisposição de forma específica.

O estudo ainda indica que os alunos veteranos apresentaram de forma relevante os quatro traços de personalidade, portanto, as terapias direcionadas de acordo com os tipos de personalidade podem ser mais apropriadas para os veteranos. A principal limitação desse estudo é ter dados coletados em apenas uma universidade, sugerindo que o modelo proposto deve ser testado em amostras maiores e mais diversificadas.

Nalmefeno: avaliação do custo benefício de seu uso como complemento ao tratamento psicossocial na redução do consumo de álcool por pacientes dependentes

CISA – Centro de Informações sobre Saúde e Álcool

O consumo de álcool está relacionado ao aumento do risco de desenvolver prejuízos agudos e crônicos, sobretudo o consumo pesado episódico ou crônico do álcool. Na Europa, está estimado que mais de 2/3 de mortes prematuras de adultos (15 a 64 anos) estão relacionadas de alguma maneira ao consumo abusivo de álcool. Altos níveis de consumo de álcool também impactam nos gastos econômicos seja pelo custo com tratamentos, perda de produtividade e maiores riscos de acidentes e atos violentos. Dessa forma, apesar da abstinência do álcool para pacientes dependentes ser o alvo mais preconizado, a redução do consumo também é considerada um objetivo de tratamento válido nos dias de hoje.

A Agência Europeia de Medicina indica duas estratégias para abordagem desse problema com foco na redução do consumo de álcool: ensaios de intervenções com base na prevenção de recaídas e/ou na redução de danos. Entre as estratégias de prevenção de recaídas se encontra o uso de medicamentos como acamprosato e a naltrexona, que buscam a manutenção da abstinência do paciente depois de já desintoxicado. Já os ensaios de redução de danos consistem em buscar formas de reduzir o consumo por pacientes que não são abstinentes e que seguem consumindo álcool.

O nalmefeno é o primeiro tratamento medicamentoso liberado na União Européia para a redução do consumo de álcool. Sua ação se dá no sistema nervoso central, reduzindo as sensações de recompensa causadas pelo uso do álcool, colaborando assim com a redução do consumo pelos pacientes. É indicado em associação com a assistência psicossocial para pacientes dependentes de álcool e também com alto risco para problemas agudos e danos crônicos relacionados ao consumo (mais de 40 g de álcool puro para mulheres e 60g para homens num único dia – Figura 1). É indicado apenas para quem não requer imediata desintoxicação e que não apresenta sintomas físicos de abstinência.

O estudo acompanhou três ensaios de pesquisa clínica autorizados do Reino Unido com o objetivo de verificar a economia social do tratamento psicossocial sozinho ou associado ao uso do nalmefeno. Para isso foi desenvolvido uma metodologia para mensurar o custo econômico direto do medicamento, o custo de sessões de 20 minutos de assistência psicossocial, e o custo das complicações relacionadas ao álcool. Foram avaliados o tempo de uso do medicamento, ganho de qualidade de vida, benefícios e economias em termos de saúde pública no tratamento de dependência de álcool considerando número de eventos atribuídos ao álcool evitados num período de 1 e de 5 anos. Também foram registrados os efeitos colaterais do nalmefeno, sendo relatado como principais: enxaqueca, náuseas, fraqueza e insônia.

Durante o primeiro ano de tratamento, o uso do medicamento junto com a assistência psicossocial reduziu o número de pacientes com alto risco quando comparado ao grupo que recebeu apenas assistência psicossocial, aumentando o número de indivíduos com baixo risco ou abstinentes. O grupo que recebeu o medicamento teve melhores resultados também com relação aos eventos relacionados a complicações de saúde e mortes.

O custo benefício medido para o “grupo medicamento” também foi melhor do que o “grupo sem medicamento”; nas avaliações de custos, o uso do medicamento impactou economicamente, em nível individual e de saúde pública, por evitar uma série de complicações relacionadas ao alto consumo de álcool. Foram evitados 7.179 adoecimentos e 309 mortes atribuíveis ao álcool por 100.000 pacientes em um período de 5 anos.

O estudo demonstrou que o uso do nalmefeno representa uma solução custo efetiva para o tratamento de pacientes dependentes do álcool com alto risco de problemas relacionados. Ainda, foi evidenciado benefício para saúde pública considerável em reduzir danos relacionados ao consumo de álcool com o medicamento.

Figura1. Definição de dose padrão de acordo com a instituição.

Análise de vídeos do YouTube que expõem intoxicação alcóolica

CISA – Centro de Informações sobre Saúde e Álcool

O consumo de bebidas alcoólicas por jovens, especialmente quando ocorre embriaguez, associa-se a maior probabilidade de envolvimento em comportamentos de risco e consequências negativas, como brigas, atividade sexual desprotegida, acidentes de trânsito, além do risco para dependência de álcool. Com novas mídias sociais muito acessíveis, estima-se que crianças e jovens de 8 a 18 anos são diariamente expostos por até 10 horas a mensagens virtuais.

Para melhor entendimento do impacto exercido por tais conteúdos relacionados ao álcool, um estudo teve como objetivo caracterizar os principais vídeos do YouTube relacionados à intoxicação alcoólica e analisar fatores avaliados positiva ou negativamente pelos internautas. Ao utilizar as ferramentas de “curtir” e “não curtir” os pesquisadores avaliaram sentimentos de aprovação ou reprovação do conteúdo dos vídeos, e espera-se que essas informações possam contribuir para futuras intervenções nos prejuízos do consumo nocivo de álcool.

Foram então selecionados os 70 vídeos mais relevantes (segundo seleção do próprio site) e populares (segundo busca pelos mais vistos) do YouTube. Os vídeos foram classificados de acordo com 42 características, em 6 categorias: características do vídeo, caráter sociodemográfico, apresentação do álcool, intensidade de uso, características associadas ao álcool e às consequências do uso dessa substância.

Os vídeos selecionados tiveram mais de 330 milhões de visualizações, sendo que cada um recebeu, em média, aproximadamente 1600 “curtidas” e apenas 33 “não curtidas”. Enquanto 89% dos vídeos envolviam homens, mulheres apareceram em 44%. As bebidas que mais apareceram foram os destilados (vodca, uísque, rum, licor, tequila), seguidos de cerveja, vinhos e champanhe, com quase metade (44%) dos vídeos exibindo nome da marca. Em 70% dos vídeos, aspectos de humor estiveram associados, e o uso de veículos automotores em 24%. Houve maior número de aprovações quando o vídeo despertava humor, fazia referência a jogos, continha bebidas destiladas ou alguma marca de bebida alcoólica, insinuava referências de atração física e quando não apresentavam lesões físicas e intoxicação. Constatou-se também que nenhum dos vídeos fez referências a intervenções de saúde pública.

A partir desses resultados, os autores do estudo discutem que o sexo masculino pode ser mais vulnerável a influências por tais vídeos. Ainda, a quantidade de vídeos com bebidas destiladas também é um ponto importante e preocupante, uma vez que o alto teor alcoólico presente nestas bebidas associa-se a maior potencial de danos à saúde, especialmente entre jovens. Em 86% dos vídeos foi retratada intoxicação alcoólica e em 33% padrão de beber pesado episódico, com 7% deles relacionados à dependência ao álcool, levantando a discussão de ser comum que a mídia enfatize o lado divertido do uso de álcool e dê menos importância às potenciais consequências negativas e prejuízos associados.

Como nessa pesquisa foram avaliados apenas vídeos em inglês, uma limitação desse estudo é que esses resultados só podem ser considerados para os países de língua inglesa.

Os autores concluem que vídeos da internet que descrevem a intoxicação pelo álcool são amplamente visualizados e destacam um lado positivo e cômico do beber, que pode levar uma geração a cultivar a falsa percepção dos riscos reais do consumo nocivo de álcool, visto que raramente são retratados os aspectos negativos. Chama a atenção também que a popularidade e ampla visibilidade desse site poderia proporcionar grandes oportunidades para intervenções de saúde pública e campanhas preventivas para juventude.

Fonte: http://www.cisa.org.br/artigo/5955/analise-videos-youtube-que-expoem-intoxicacao.php

Consumo de álcool por esportistas

CISA – Centro de Informações sobre Saúde e Álcool

A presença de bebidas alcoólicas no ambiente esportivo é comum e faz parte desta cultura. Como fatores contribuintes citam-se comemorações típicas celebradas, como abrir garrafas de champanhe ao término de corridas de Fórmula 1 ou mesmo o consumo de cerveja que acompanha a torcida pelo futebol no Brasil, e patrocínios tanto de times como de atletas pela indústria de bebidas alcoólicas.

A prática de atividade física regular é considerada uma forma efetiva de promover saúde, qualidade de vida e prevenir muitas doenças. No entanto, um cenário paradoxo merece atenção: atletas e indivíduos que praticam esportes ingerem mais álcool que a população geral, como demonstrado em diversas publicações. Um estudo canadense mostrou que esportistas adolescentes e adultos jovens consomem mais álcool e abusam dele com frequência maior que seus pares. Algumas hipóteses que poderiam explicar esta relação se baseiam em fatores psicológicos, culturais e econômicos. De uma perspectiva psicológica, atletas sob pressão em competição ingerem álcool para aliviar a tensão. Alguns indivíduos apresentam características que os impulsionam a buscar novas e fortes emoções, sendo mais propensos a buscar desafios e experiências extremas. Sendo assim, o mesmo traço de personalidade que motiva alguém a participar de maratonas e competições poderia ser responsável por beber abusivamente. Do ponto de vista cultural, o consumo mais intenso de álcool ainda é considerado como símbolo de virilidade além de aparentar estímulo ao espírito de time e coesão, elementos essenciais nos esportes.

Com relação à performance esportiva do indivíduo que bebe, alguns pontos precisam ser enfatizados. Beber antes ou durante a atividade física gera riscos metabólicos importantes como comprometer a liberação de energia para a prática esportiva. Altera também a regulação da temperatura do corpo, gerando, no calor, risco maior de desidratação, e no frio, queda da temperatura interna, prejudicando claramente o desempenho. Além disso, deve-se considerar o risco aumentado de lesões pelos efeitos psicomotores dessa substância.

Após a atividade física o atleta necessita recuperar-se, com hidratação adequada e reposição de fontes energéticas. Tais fatos são mais negligenciados quando se ingere álcool após o exercício. Ainda, os efeitos da ressaca e problemas na qualidade do sono tornam o consumo de álcool abusivo um empecilho para o desenvolvimento dos atletas.

Enquanto a conquista por altas performances pode não ser o objetivo de todos que praticam esportes, a saúde e bom condicionamento são metas importantes para a participação em atividades físicas. Portanto, a moderação é sempre uma boa opção.

* Uma dose padrão contém aproximadamente de 10 g a 12 g de álcool puro, o equivalente a uma lata de cerveja (330 ml) ou uma dose de destilados (30 ml) ou ainda a uma taça de vinho (100 ml).

Fonte: http://www.cisa.org.br/artigo/7280/consumo-alcool-por-esportistas.php

A dependência de álcool e as características psicossociais do trabalho: um estudo prospectivo

CISA – Centro de Informações sobre Saúde e Álcool

Na cultura ocidental, a dependência de álcool é tema de saúde pública de relevância. Embora muito se conheça a respeito dos efeitos sociais e de saúde decorrentes do consumo de álcool, ainda pouco se sabe a respeito da interferência das condições do ambiente de trabalho sobre o uso e a dependência de álcool, principalmente no que se refere às suas características psicossociais.

Com o propósito de descobrir a associação da dependência de álcool às medidas psicossociais de trabalho, os autores realizaram um estudo prospectivo com 10.308 funcionários civis ingleses, de setores não-industriais, de faixa etária entre 35 a 55 anos. Adotaram-se 2 modelos teóricos para o estudo da relação do estresse do ambiente de trabalho à dependência de álcool, através da análise de medidas psicossociais como a demanda do serviço, suporte social pelo supervisor ou colegas de trabalho, possibilidade de decisão e prática das habilidades individuais e relação entre o esforço despendido e a recompensa recebida no âmbito de trabalho. Na análise foram inseridos possíveis fatores de risco que não estivessem associados ao ambiente de trabalho, tais como comportamentos de saúde (consumo de tabaco e álcool), estado civil, suporte e rede social fora do trabalho, dificuldades financeiras e eventos estressantes da vida.

Assim, conforme os resultados do estudo há características do ambiente de trabalho que consistem em verdadeiros fatores de risco à dependência de álcool, independentemente de doenças físicas pré-existentes, saúde mental prejudicada ou mudanças adversas do suporte ou tamanho da rede social. A interferência das medidas de trabalho distinguiu-se conforme o sexo do participante. Assim, entre os homens houve forte associação das condições psicossociais do ambiente de trabalho com a dependência de álcool, principalmente em termos do desbalanço e falta de reciprocidade da relação esforço/recompensa. Quando o funcionário se esforça e tem seu trabalho pouco reconhecido, seja na forma de salário ou promoção, aumentam-se os riscos para a dependência de álcool e outros problemas de saúde. Ainda entre os homens, aspectos negativos de relacionamentos externos, rede social reduzida e experiência passada de doença estão fortemente associados à dependência de álcool. No que tange à dimensão da rede social, quanto maior, menor a chance de envolvimentos sérios com álcool. Entre as mulheres a situação é um pouco diferente. A falta de autonomia e a falta de oportunidade de empregar habilidades específicas no âmbito de trabalho, associadas a cargos de destaque e de maior responsabilidade, aumentam os riscos do uso problemático de álcool e dependência. Contrariamente à hipótese inicial, medidas psicossociais relacionadas à exigência demasiada e pouco suporte dos supervisores ou colegas de trabalho não influenciaram o risco de dependência á álcool.

De forma geral, independentemente do sexo, os autores apontam que a deficiência de recompensa social adequada, principalmente no ambiente de trabalho, alimenta a incidência do comportamento do uso de drogas entre os funcionários, deficiência que é reforçada pela experiência, na vida, de relacionamentos sociais desfavoráveis não necessariamente associados ao trabalho. Assim, os autores sugerem que pesquisas e programas de prevenção voltados à saúde ocupacional deveriam enfatizar a interferência de fatores psicossociais do trabalho na dependência de álcool.

Álcool e mulheres: cenário atual

CISA – Centro de Informações sobre Saúde e Álcool

Quando são feitas comparações entre homens e mulheres em relação ao consumo de bebidas alcoólicas no Brasil e no mundo, em geral, vemos que os homens bebem mais, com maior índice de abstenção entre mulheres. Talvez, a menor aceitação social e cultural para o consumo feminino funcione como um fator de proteção em nosso país. Entretanto, com o passar dos anos, fatores sociais e culturais sofreram rápidas e profundas modificações e a preocupação com o consumo de álcool entre mulheres é um tema muito presente nos dias de hoje. Em diversos países, o padrão de consumo de álcool por mulheres caminha para a igualdade em relação ao padrão masculino, o que poderá representar desigualdade nos resultados para a saúde, de acordo com a maior vulnerabilidade delas para as consequências negativas do beber pesado (saiba mais: http://www.cisa.org.br/artigo/5187/consumo-alcool-saude-mulher.php).

Relatório sobre consumo de álcool nas Américas – Organização Panamericana da Saúde (OPAS)

De acordo com a OPAS, escritório regional da OMS, na região das Américas:

  • houve aumento na frequência de BPE de 4,6% para 13% nos últimos 5 anos, entre mulheres;
  • a cerveja é a bebida de preferência para a maioria dos 36 países que compõem a região, apesar de em alguns países predominar o vinho ou destilado;
  • o consumo de álcool entre mulheres é menor que entre homens e o tamanho desta diferença varia de um país para o outro. No Brasil, é 3 vezes menor, e por exemplo, na Guatemala, é até 15 vezes menor;
  • a proporção de mulheres que apresentam algum transtorno por uso de álcool equivale a 3,2%, o que representa a maior taxa mundial quando são comparadas todas as regiões, seguida da região composta pelos países europeus.

Relatório Global sobre Álcool e Saúde 2014 – Organização Mundial da Saúde (OMS)

De acordo com a OMS, estima-se que em 2010, no Brasil:

  • o padrão de risco Beber Pesado Episódico (BPE), ou consumo de 60 gramas ou mais de álcool em uma única ocasião, apesar de ser mais comum entre homens, esteve presente em 11% das mulheres que consomem álcool;
  • cerca de 30% das mulheres nunca beberam, e 12,4% não beberam no último ano.

II Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (LENAD II)

Segundo o relatório nacional divulgado em 2014, houve aumento importante do consumo de álcool entre as mulheres ao longo dos anos anteriores. Como se pode verificar na tabela abaixo, entre os anos de 2006 e 2012, houve aumento tanto no uso regular como no BPE, que foi definido para mulheres como o uso de quatro ou mais doses em aproximadamente 2 horas.

Tabela 1. Comparação entre 2006 e 2012 do uso regular e uso em BPE de álcool

Ainda, verificou-se que o consumo precoce aumentou: em 2006, 16% dos homens e 8% das mulheres relataram ter experimentado álcool com menos de 15 anos. Em 2012, os dados foram de 24% e 17%, respectivamente.

Levantamento Nacional sobre o Uso de Álcool, Tabaco e Outras Drogas entre Universitários das 27 Capitais Brasileiras

Entre os principais resultados, verifica-se que o álcool é a substância mais utilizada entre universitários de ambos os sexos, com aproximadamente 90% tendo relatado consumo na vida.

Gráfico 1. Prevalência de uso de álcool de acordo com o período (%), 2010

São Paulo Megacity

Estudo realizado com adultos da Região Metropolitana de São Paulo mostrou que aproximadamente 22% dos entrevistados eram abstêmios (32% das mulheres e 9% dos homens), 18% fizeram uso pesado de álcool nos últimos 12 meses (26% dos homens e 10% das mulheres).
O maior consumo de bebidas alcoólicas entre mulheres esteve relacionado a maior grau de instrução e melhores condições econômicas.
Embora homens sejam duas vezes mais propensos a fazer uso pesado de álcool que mulheres, houve semelhança entre proporção e tipos de problemas decorrentes do uso, quando trata-se de beber pesado (problemas interpessoais, danos não intencionais, prejuízos sociais, uso continuado apesar dos problemas).>br> Os autores esclarecem que com a mudança do papel da mulher na sociedade e o direcionamento para uma igualdade entre gêneros – na qual as mulheres estão investindo mais em educação, trabalhando fora de casa, adotando hábitos anteriormente vistos como masculinos, aumentando o consumo de bebidas alcoólicas, as diferenças em relação às consequências do uso do álcool diminuem. Além disso, o aumento de consumo da bebida pelas mulheres pode estar associado ao estresse da dupla jornada de trabalho diário.

Considerações finais

Ao longo dos últimos anos está havendo uma convergência do uso de álcool entre os gêneros, com maior aceitação social do uso pela mulher. A vulnerabilidade do organismo feminino perante os efeitos do álcool é algo preocupante e merece atenção em termos de políticas públicas.
O uso excessivo de álcool por mulheres aumenta o risco para câncer de mama, doenças cardíacas, doenças sexualmente transmissíveis, gravidez indesejada, além de outros problemas. Mulheres em período fértil que usam álcool e não realizam contracepção correm o risco de causarem danos ao recém-nascido caso engravidem (saiba mais: http://www.cisa.org.br/artigo/4763/sindrome-alcoolica-fetal.php).
Trata-se de um cenário relativamente novo e é preciso direcionar a atenção para medir os problemas associados já conhecidos e possivelmente novos problemas que possam surgir. Os dados acima citados refletem a necessidade de maior conscientização da população geral e consequentemente de investimentos em programas de prevenção específicos e adequados para este grupo.

Padrão do consumo de álcool e suas consequências ao longo de 10 anos entre homens e mulheres idosos

CISA – Centro de Informações sobre Saúde e Álcool

Os pesquisadores buscaram responder as seguintes perguntas sobre o consumo de álcool entre pessoas idosas e no final da meia-idade: a taxa de abstinência aumentou ao longo de 10 anos para esta população? Os problemas e o nível de consumo de álcool diminuiu neste mesmo intervalo de tempo entre aqueles que continuaram a beber? Estas mudanças foram diferentes entre homens e mulheres? Quais fatores, no final da meia idade, foram os mais importantes para predizer o surgimento de problemas decorrentes do uso do álcool na velhice? Estes fatores eram diferentes para homens e mulheres? Outros fatores ocorridos durante a vida, como uso excessivo e prejudicial de álcool e busca de ajuda, foram importantes para explicar o surgimento de problemas decorrentes do uso de álcool na velhice?

Participou da pesquisa uma amostra de 1291 indivíduos (529 mulheres e 762 homens) que possuíam entre 55 e 65 anos de idade no início da investigação, havia buscado atendimento médico pelo menos uma vez nos últimos três anos e que relataram ter consumido algum tipo de bebida alcoólica pelo menos uma vez nos últimos 12 meses.

Todos responderam a um conjunto de questionários, depois de um, quatro e dez anos da data de início da pesquisa. As perguntas tiveram como foco levantar os problemas decorrentes do uso de álcool, seus problemas de saúde relacionados e as características de vida.

O consumo de bebidas alcoólicas foi medido através de um questionário adaptado do formulário sobre condições de vida e de saúde (Health and Daily Living Form – HDL) e, basicamente, os participantes responderam sobre a frequência e quantidade de consumo semanal de álcool (nunca, menos de uma vez, uma ou duas vezes, três ou quatro vezes, quase todos os dias) e sobre o consumo médio nos últimos 30 dias de vinho, cerveja, e bebida destilada. Os autores encontraram que durante os 10 anos durante os quais os sujeitos foram acompanhados, a proporção dos que se mantiveram consumindo bebidas alcoólicas diminuiu. Entre os que continuaram a beber, houve declínio na quantidade consumida de álcool e nos problemas decorrentes deste consumo. A proporção de redução foi semelhante entre homens e mulheres.

Quanto às características individuais associadas aos problemas decorrentes do uso de álcool na velhice, as mais importantes foram: quantidade média de consumo de álcool, fumar tabaco, ter amigos que aprovam o uso de álcool e adotar comportamento para lidar com situações de stress através de evitação de conflito. Acerca dos eventos ocorridos em algum momento da vida que mostraram associação com os problemas ligados ao consumo de álcool, os mais importantes foram: ter feito uso excessivo e prejudicial de álcool e ter aumentado o consumo de álcool em função de algum evento importante ocorrido na vida. Já os fatores protetores, que levaram a uma diminuição dos riscos de desenvolver problemas com a bebida foram: obter ajuda de membros da família e amigos, e, entre os homens, frequentar grupos de Alcoólicos Anônimos.

Os autores concluíram que homens e mulheres mostraram reduções semelhantes de consumo de bebidas alcoólicas e seus problemas relacionados. Fatores específicos presentes no final da meia-idade, estratégias de lidar com eventos estressantes e história de vida podem aumentar os riscos para o desenvolvimento de problemas ligados ao uso de álcool na velhice.

Avaliação Neurocognitiva no abuso e dependência do álcool: implicações para o tratamento

CISA – Centro de Informações sobre Saúde e Álcool

Segundo os autores, a neuropsicologia aplicada ao abuso e dependência do álcool busca descrever as alterações cognitivas, comportamentais e emocionais, a qualidade do funcionamento mental, realizar a análise de potenciais, prever o curso da recuperação, estimar o funcionamento pré-mórbido – anterior ao surgimento de doenças ou disfunções e compreender a relação entre danos cerebrais e seus efeitos na cognição e no comportamento do indivíduo. Estuda, ainda, os comprometimentos neurocognitivos dos pacientes, relacionando-os a achados estruturais e funcionais de neuroimagem (Tomografia Computadorizada – TC, Ressonância Magnética – RM, Tomografia por Emissão de Pósitrons PET e SPECT).

Efeitos agudos do álcool

Apesar de reduzida, a literatura sobre os efeitos neuropsicológicos decorrentes da intoxicação aguda mostra que o álcool tende a comprometer: atenção; memória de curto prazo e tardia; funções executivas que incluem a capacidade de iniciar ações, planejar meios de resolver problemas, antecipar consequências, mudar estratégias,e tomar decisões

Efeitos crônicos do álcool

De acordo com a literatura citada pelos autores, os déficits cognitivos são piores quanto maior o padrão de uso de álcool dos indivíduos, existindo um continuun dos bebedores sociais até os dependentes do álcool. As alterações mais comuns são aquelas relacionadas com os problemas de memória, aprendizagem, abstração, resolução de problemas, análise e síntese viso-espacial, velocidade psicomotora, velocidade do processamento de informações e eficiência cognitiva.

Os autores afirmam que os indivíduos que apresentam dependência de álcool tendem a apresentar mais erros nas tarefas e levam um tempo maior para completar determinadas atividades. Estas alterações parecem ser consequências de danos cerebrais difusos e, embora melhorem substancialmente com a abstinência, há a manutenção de alguns déficits, mesmo anos após a última ingestão de álcool.

Implicações para o tratamento

Os déficits cognitivos encontrados nos dependentes de álcool, principalmente nas funções executivas (frontais), têm implicação direta no tratamento, tanto para a escolha de estratégias a serem adotadas como para a análise do prognóstico.

Pacientes com alterações cognitivas e de neuroimagem, principalmente em regiões frontais do cérebro, tendem a apresentar pior prognóstico, associado a um maior número de recaídas durante o tratamento. O estudo citado pelos autores indica que as funções executivas, que envolvem a memória operativa e inibição do comportamento, são cruciais para o controle do comportamento ?automático? de beber e, consequentemente, para prevenir a recaída. Além disso, as funções executivas seriam muito importantes para um bom funcionamento na vida diária, como planejar atividades do dia-a-dia, acompanhar uma conversa, manter e realizar projetos, entre outros.

Reavaliação Neuropsicológica e reabilitação cognitiva de dependentes de álcool

Reavaliações neuropsicológicas periódicas ajudam a avaliar o progresso do tratamento em termos das mudanças ocorridas no funcionamento cognitivo. Além disso, a Neuropsicologia dispõe de técnicas de reabilitação cognitiva, que permitem o trabalho adequado destes déficits nos dependentes de álcool, auxiliando-os, inicialmente a reconhecer as alterações cognitivas como consequências do abuso de álcool e, posteriormente, a recuperar as funções ou amenizar o sofrimento do sentimento de inadequação psicossocial.

As tarefas de treinamento e reabilitação neuropsicológica podem acelerar, e até mesmo reverter, quadros de alteração cognitiva em dependentes de álcool, contribuindo muito para a aquisição de novas habilidades e para o sucesso do tratamento.

Fonte: http://www.cisa.org.br/artigo/576/avaliacao-neurocognitiva-no-abuso-dependencia-alcool.php