Breve história da pesquisa genética nos transtornos devido ao uso de álcool

CISA – Centro de Informações sobre Saúde e Álcool

O presente estudo pretendeu esclarecer os aspectos e avanços relacionados à influência genética no uso de álcool através de uma revisão das últimas 7 décadas, tendo sido buscados artigos a partir de 1940.

Embora a ciência genética já impactasse práticas agrícolas e pecuárias, as bases modernas dos estudos genéticos foram estabelecidas há apenas 150 anos pelo trabalho de Gregor Mendel com plantas. Suas descobertas foram rapidamente expandidas para uma ampla variedade de organismos, possibilitando o reconhecimento da existência do DNA e cromossomos. Com o surgimento de métodos estatísticos mais poderosos e o aumento do interesse da questão genética ao longo do tempo o entendimento dos genes e dos cromossomos e o isolamento do DNA ficaram mais sofisticado.

Apenas em 1953 foi descoberta a estrutura do DNA como uma fita de dupla hélice por Whatson e Crick e apenas em 1972 as abordagens de sequenciamento gênico e entendimento da estrutura e funcionamento dos genes foram estabelecidas por Min Jou. Essa sequencia de eventos levaram ao sucesso do sequenciamento total do genoma humano em 2003.

Ao longo dos 75 anos da existência do Journal of Studies on Alcohol and Drugs (JSAD), foram publicados cerca de 350 artigos sobre questões genéticas relacionadas com o álcool e outras drogas e transtornos. Essa revisão utilizou como base esses artigos e também buscas pelo principal banco de artigos científicos (PUBMED) utilizando os termos referentes à genética e ao álcool.

Os resultados indicam que os primeiros trabalhos relacionando diretamente genética com transtornos de uso de álcool (TUA) foram publicados em 1947 e em 1953, avaliando a influência genética em TUA em humanos e modelos animais. A partir de 1968 esse tipo de trabalho começou a ser publicado com maior intensidade com discussões sobre histórico familiar de TUA entre dependentes do álcool e seus parentes e especialmente um artigo de 1973 feito com gêmeos e filhos adotados documentando definitivamente a influência genética no alcoolismo. Mais recentemente também tem sido avaliado a relação da questão racial, da sensibilidade ao álcool e da propensão a TUA com genes específicos, além da relação de transtornos psiquiátricos e TUA, e a investigação mais intensa e profunda sobre diversos genes possivelmente implicados.

Foi constatado que filhos de indivíduos com TUA tem 3 a 4 vezes maior risco de desenvolvê-lo, mesmo quando a criança é separada de seus pais biológicos nos primeiros anos de vida, o que diminui o risco de influência do ambiente. Os resultados foram mais expressivos para o sexo masculino.

Estudos com gêmeos também foram muito instrutivos. Isso porque, apesar de gêmeos univitelinos possuíram 100% dos genes iguais, os gêmeos bivitelinos possuem apenas 50% da carga genética igual como qualquer irmão, mas com a vantagem que estão expostos ao mesmo ambiente, criação e idade de início das diversas experiências ambientais o que favorece a avaliação da influência genética. Com esse tipo de estudo foi estabelecido que a questão genética tem aproximadamente 60% de influência para a ocorrência de TUA.

A observação de quatro características (fenótipos) foi importante para a identificação de genes que poderiam estar envolvidos com o TUA. 1) Rubor facial após ingestão de bebidas alcóolicas, fenômeno que é observado há séculos nas populações asiáticas 2) Identificação da relação de TUA com comportamentos impulsivos (pessoas impulsivas tendem a beber mais), 3) Pessoas com doenças psiquiátricas possuíram maior risco de desenvolver TUA e 4) Indivíduos com baixa resposta ao álcool que desenvolvem TUA. A baixa resposta ao álcool se caracteriza quando o indivíduo necessita de maiores doses de álcool para atingir o mesmo grau de intoxicação. Desta forma, esses indivíduos tentem a beber mais e estão mais predispostos a desenvolver o TUA.

Hoje se sabe que o fenótipo 1, relacionado ao rubor facial se dá pela alteração ou falta do gene para uma enzima que metaboliza álcool chamada aldeído desidrogenase e mutações em alguma das cópias desse gene está presente em 40% dos asiáticos. Se o indivíduo tiver uma cópia com a mutação irá ingerir menores quantidades de álcool e se a mutação estiver presente nas suas duas cópias, a metabolização do álcool fica bastante comprometida e isso causará náuseas e vômitos, além do rubor facial. Logo é pouco provável que esses indivíduos desenvolvam TUA. Sabe-se também que existem diferentes tipos de mutação nesse gene que podem causar maiores ou menores dificuldades para metabolização do álcool, mas esses indivíduos sempre tendem a consumir menos álcool e por isso confere papel protetor ao TUA.

Já o segundo fenótipo relacionado a impulsividade foi associado aos genes para receptores cerebrais que estimulam a atividade de neurônios, ou envolvido nos mecanismos de prazer ou ainda em genes do hormônio antidiurético que faz com que os níveis alcoólicos do sangue se mantenham elevados por mais tempo.

O fenótipo de baixa resposta ao álcool pode ser observado medindo-se a concentração sanguínea de álcool após a ingestão (sendo que esses indivíduos apresentam menores concentrações sanguíneas de álcool após a ingestão de uma mesma quantidade) ou por questionários retrospectivos. Essa identificação é capaz de predizer que essas pessoas poderão desenvolver posteriormente TUA mais facilmente, sendo conferido a carga genética de 40 a 60% como causa dessa menor sensibilidade ao álcool (Modelo de Baixa Resposta ao Álcool). Para esses casos, através da baixa resposta individual ao álcool, o componente ambiental também exerce forte influência, uma vez que as percepções sociais e entre seus pares tenderão a ser permissivas ao uso de álcool e em padrões de beber mais intensos.

Por fim, alguns dos genes associados a doenças psiquiátricas também levam o indivíduo a desenvolver TUA, em especial os relacionados a esquizofrenia e ao transtorno bipolar, entre outras. Essas alterações genéticas se dão para genes de receptores que produzem, metabolizam ou transportam os neurotransmissores, que são substâncias produzidas pelo cérebro para seu funcionamento normal.

Depressão e uso de bebidas alcoólicas

CISA – Centro de Informações sobre Saúde e Álcool

Um dos tópicos cada vez mais investigados na área do consumo de substâncias psicoativas é sua associação com outros distúrbios psiquiátricos. Uma das co-ocorrências que tem despertado grande interesse é a associação entre depressão e os problemas decorrentes do uso de álcool. Cada vez mais pesquisas têm sido realizadas na tentativa de compreender as causas desta associação.

Cada vez mais evidências têm sido criadas do que dificuldades em lidar com situações e emoções negativas estão associadas com os problemas decorrentes do uso de álcool. Estas evidências reforçam as hipóteses de que algumas pessoas tendem a usar o álcool como uma forma de fugir e/ou lidar com estes tipos de situações e emoções.

Em um estudo sobre o abuso do álcool por indivíduos adultos, pesquisadores concluíram que confiar nos efeitos das bebidas alcoólicas para aliviar ou lidar com situações e emoções negativas foi a variável que mostrou maior associação com o abuso de bebidas alcoólicas.

A presente pesquisa foi realizada com 424 pacientes com diagnóstico de depressão unipolar (ocorrência de um ou mais episódios depressivos de grau leve, moderado ou grave, sem episódios de mania) que foram comparados com 424 pessoas sem diagnóstico de depressão. Os dois grupos foram acompanhados por 10 anos com o objetivo de investigar a associação entre depressão e o uso de álcool para lidar com seus sintomas. Foram investigados, também, que outros fatores presentes na vida dos pacientes aumentavam o risco destes passarem a confiar no uso de álcool para lidar com seus sintomas depressivos.

Os autores concluíram que os pacientes deprimidos tendiam a consumir mais álcool para lidar com situações e emoções agraváveis do que as pessoas sem diagnóstico de depressão. Os fatores que aumentaram mais o risco dos pacientes se engajarem neste tipo de consumo de bebidas alcoólicas foram ocorrência de eventos negativos na vida e pouco apoio familiar.

Os autores enfatizaram que a importância destes dados está relacionada ao fato de que tanto para o tratamento do alcoolismo como da depressão os fatores lidados ao contexto de vida dos pacientes são importantes. Para pacientes deprimidos, o uso do álcool é um obstáculo ao sucesso do tratamento, para pacientes alcoolistas, a presença de sintomas depressivos é um fator de risco para recaídas, principalmente para aqueles que utilizam a álcool para lidar com as situações e emoções negativas. Os tratamentos devem incorporar estratégias que ajudem os pacientes a lidar com situações adversas da vida e incorporar a família como importante fonte de apoio emocional para os pacientes depressivos.

Sertralina e terapia cognitiva comportamental para alcoolistas em depressão

CISA – Centro de Informações sobre Saúde e Álcool

Alcoolismo e depressão são os dois maiores problemas de saúde mental identificados nos principais estudos epidemiológicos realizados em amostras populacionais dos EUA. Os custos para a sociedade são enormes, e vão desde a diminuição da produtividade, absenteísmo, aumento da demanda de atendimento e mortalidade precoce por diversas causas.

Poucos estudos têm focado especificamente o tratamento das comorbidades e das co-ocorrências do alcoolismo com a depressão. Essas consequências são extremamente significativas. A depressão prevê recorrência da dependência ao álcool e vice-versa.

Alcoolistas em depressão tem uma tendência maior a desenvolverem instabilidade emocional e tentativas de suicídio, comparados à pacientes que não possuem as mesmas comorbidades. Sendo assim, há necessidade contínua de tratamento clínico e social.

As mulheres apresentam riscos elevados de desenvolvimento de depressão e, particularmente, são as primeiras a desenvolverem a doença comórbida ao alcoolismo.

Os medicamentos com atividade serotoninérgica têm um interesse especial no tratamento de alcoolistas em depressão. Estudos em modelos animais e em humanos sugerem que há manutenção importante das disfunções serotoninérgicas no início e na manutenção do alcoolismo. A inibição da recaptação de serotonina reduz o uso de álcool em pacientes sem acompanhamento médico ou em pacientes que fazem tratamento.

Esse estudo avaliou a eficácia da sertralina quando adicionada ao tratamento psicoterapêutico de pacientes que apresentavam dependência ao álcool. Para isso, durante 12 semanas, 82 pacientes alcoolistas combinaram a administração de sertralina ou placebo com terapia cognitiva comportamental.

A sertralina foi bem tolerada, e todos os sujeitos apresentaram diminuição da depressão e da dependência durante o estudo. Sujeitos que receberam sertralina beberam menos por dia do que aqueles que receberam placebo. O tratamento com sertralina foi associado também à diminuição da depressão auxiliando o tratamento de pacientes.

Idosos continuam a ser negligenciados, apesar de numerosos

Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (CISA)

Os avanços da medicina ajudam a ampliar a expectativa de vida da população, mas isso não quer dizer que as pessoas desfrutam de saúde nesses anos extras.

O Tempo*

Como manter o pensamento positivo?

Atmosfera Feminina

Dra. Dorit W. Verea

Todas as teorias são unânimes em dizer que devemos ter pensamentos positivos. Porém, sabemos muito bem que não temos condições de ter o controle total sobre nossos pensamentos. Imaginem que prático seria poder decidir esquecer um amor rejeitado.

Ao longo do dia temos diversos tipos e formas de pensamentos que não param – estamos sempre pensando. Sobre alguns deles não temos controle, e por isso podem ser chamados de automáticos. Simplesmente, “aparecem em nossas mentes” e influenciam nosso estado de humor e nossas emoções.

Como os pensamentos automáticos são muito fugazes, geralmente não são questionados e são aceitos como verdadeiros, e manifestam a maneira como significamos as situações, bem como as distorções que fazemos da realidade.

O homem é um ser em uma busca constante por significados e explicações

Quando pensamos, estamos também interpretando essa realidade a nós mesmos. Assim, formamos os pensamentos automáticos.

A partir disso processamos, percebemos e atribuímos significados às situações vividas e formamos nossas crenças. Por exemplo, após algumas experiências amorosas frustradas, uma pessoa pode concluir “eu não tenho mesmo sorte no amor”. Será que isto é verdadeiro?

Alguns dos pensamentos automáticos podem ser total ou parcialmente errôneos, mas foram gerados porque interpretamos de forma inadequada o que ocorreu com conosco.

A vida não é cor-de-rosa. Não é possível ter apenas pensamentos positivos, caso contrário, perderíamos a capacidade de perceber sinais importantes tanto do ambiente quanto nossos próprios. A saída é conseguir olhar as situações problemáticas de muitos pontos de vista diferentes: positivos, negativos e neutros, para encontrarmos novas conclusões e soluções; é conseguir elaborar pensamentos alternativos, e não simplesmente substituir para um pensamento positivo.

Ao mudarmos nossos diálogos internos e seu fluxo de pensamentos negativos, nos damos conta da importância do pensar na instalação e manutenção do sofrimento. É comum ouvir dos pacientes: “Eu nunca havia percebido o quanto penso bobagens durante o dia, que as coisas vão dar errado, que eu não sou capaz de fazer as coisas corretamente, que não sou bom o suficiente, que ninguém gosta de mim”.

Finalizando, seguem abaixo erros de pensamento mais comuns:

-Do tipo tudo ou nada (dicotômico) – a pessoa enxerga o universo em apenas duas categorias, como certo ou errado, sucesso ou fracasso, não vendo as coisas dentro de um continuum.

-Catastrofização – prevê que o futuro será da pior forma possível, superestimando a possibilidade de ocorrências negativas.

– Personalização – acredita que é culpada por eventos negativos ou comportamentos aversivos de terceiros.

– Ditadura dos “deveria” – tem uma ideia excessivamente rígida de como deve ser o seu comportamento e grande exigência sobre seu desempenho.

– Desqualificação do positivo – a pessoa descarta suas características positivas, evidenciando as negativas.

– Inferência arbitrária – chega a conclusões precipitadas sem evidências.

Entenda os transtornos alimentares

Atmosfera Feminina

A associação entre comida e afeto permeia nossas vidas desde nossos primeiros momentos fora do útero materno.

É interessante observar o processo de amamentação: mesmo depois de finalizar a sucção, o bebê continua mamando, sem sugar, como se o seio materno fosse uma chupeta. Visto que a necessidade alimentar está saciada, pode-se supor que ele obtenha outros ganhos quando mama: o colo da mãe, o calor do seu corpo, a segurança de ouvir sua voz.

Se pensarmos no nascimento como um evento em parte traumático, é claro que voltar para perto do corpo que foi sua casa durante nove meses pode ser reconfortante. Mas se a conversa estiver parecendo um pouco nostálgica, podemos nos debruçar sobre os dias atuais e nos perguntarmos se continuamos vivendo sob a égide desse mesmo mecanismo – procurando conforto emocional na comida.

É claro que sofisticamos essa busca voraz através dos tempos e elegemos novas mães para substituir a original: a doceria, a pastelaria, a gôndola de chocolates do supermercado mais próximo. As opções gastronômicas são várias, mas elas mascaram uma verdade inconveniente: apesar de crescidos, continuamos a usar a mesma técnica experimentada talvez em nossos primeiros minutos de vida para aplacar o medo, a ansiedade, a raiva ou a dor. Primitivo, não?

Fique de olhos nos transtornos alimentares!

Em alguns casos, a administração dessa delicada relação acaba por gerar sérios transtornos como anorexia e bulimia, ambos passíveis de ocasionar graves danos físicos e psicológicos ao paciente e seus familiares. O tratamento médico deve vir acompanhado do atendimento psicológico exatamente para que a psicoterapia possa oferecer instrumentos de sofisticação desse instinto tão primitivo oriundo de nossas fases mais elementares de desenvolvimento.

A relação travada entre paciente e psicoterapeuta visa criar novos manejos dos sentimentos que não pela compulsão alimentar ou pela necessidade de se livrar dos resultados dela, como acontece na bulimia. Dentre muitos mecanismos psicológicos de defesa que utilizamos, talvez o mais completo, o “top” dos mecanismos, seja a sublimação – capacidade de transformar a angústia em arte, em sonho, em projetos.

Quando se está só, refém da própria voracidade, é difícil enxergar novos horizontes. Em contrapartida, a aceitação e a busca de ajuda especializada abrem novas frentes de sublimação para que sigamos mais ou menos ilesos nessa árdua jornada entre o primitivismo de nossos instintos e a necessidade de nos elevarmos a eles, mandando no nosso consumo e nos tornando mais conscientes da real natureza de nossas fomes. Porque, como já disse o poeta, “a gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte”.

Dorit Wallach Verea é psicóloga, coordenadora da Clínica Prisma, mestre em Psicologia Clínica pela PUC/SP e especialista em Dependência Química pelo Instituto Sedes Sapientiae. É também especialista em Psicologia Psicossomática pela Universidade Paulista/SP.

Por que queremos mudar os outros?

Atmosfera Feminina

Quer mudar seu namorado, marido, chefe, pai ou filho? Desista, você não tem saída: ou aceita o fato de que isso é impossível ou entra em guerra consigo e com o mundo.

As nuvens produzem chuva sem o nosso consentimento, o sol nasce e se põe sem pedir permissão e o inverno vem inexorável com seu vento frio, e não podemos fazer nada contra isso além de nos proteger.

Da mesma maneira, o cérebro produz continuamente pensamentos que vêm às nossas mentes sem permissão. Acreditamos que temos controle sobre nossos pensamentos espontâneos, porém é pura presunção. Podemos, com dificuldade, mandar embora ou alterar pensamentos disfuncionais, mas evitar pensamentos espontâneos é impossível!

Apesar da nossa impotência frente à mãe natureza, pretendemos mudar os pensamento e atitudes dos outros!

Como não conseguimos, nos sentimos frustrados, incapazes, tristes e sentimos imediatamente medo, ansiedade, ressentimento, dor de cabeça, dor nas costas e outros sintomas mais. E, para aliviar nossa sensação de impotência, projetamos os nossos sentimentos de inadequação culpando as pessoas mais próximas.

Se você acredita que alguém é responsável pelos seus fracassos e pelo seu sofrimento, você se posicionou muito mal, porque está agindo como vítima.

Ser responsável significa aceitar a realidade e agir de consequência. Aceitar a realidade significa também respeitar o outro. Significa admitir que a pessoa pensa e deseja coisas diferentes das nossas. Significa aceitar que temos condições de tolerar o diferente.

A realidade é o que é, e é sempre verdadeira

São nossos pensamentos e julgamentos que podem não ser verdadeiros porque enxergam apenas parte da realidade.

Portanto, podemos questioná-los apenas aceitando a realidade, e não resistindo ou lutando contra ela. Quando você quer se poupar e não enxergar a realidade como ela é, você perde a lucidez mental. Na falta de lucidez mental, temos a sensação de não saber o que fazer e nos sentimos perdidas.

Feliz ou infelizmente, a realidade é que as pessoas só mudam quando querem e, mesmo assim, é muito difícil.

Se você está disposto a aceitar as pessoas como são, elas não precisam mudar para estarem em paz e harmonia com você. A situação não precisa ser diferente e seus sonhos não precisam se realizar para você ser feliz. Não é necessário que sua realidade mude para você ser feliz. Basta aceitá-la.

Aceitá-la não quer dizer renunciar aos seus desejos ou sonhos, mas significa não se apegar de maneira exagerada e ilusória. Basta ser feliz.

Dorit Wallach Verea é psicóloga, coordenadora da Clínica Prisma, mestre em Psicologia Clínica pela PUC/SP e especialista em Dependência Química pelo Instituto Sedes Sapientiae. É também especialista em Psicologia Psicossomática pela Universidade Paulista/SP.

SP e RJ concentrarão 40% dos casos de câncer previstos para o País em 2014

O Estado de S. Paulo

Envelhecimento e estilo de vida nos grandes centros urbanos favorecem o aparecimento da doença, diz especialista

Os Estados de São Paulo e do Rio de Janeiro deverão concentrar 40% dos casos de câncer previstos para este ano no País, aponta levantamento feito pelo Estado com base em dados divulgados nesta terça-feira, 4, pelo Instituto Nacional do Câncer (Inca). As estatísticas foram apresentadas em ocasião do Dia Mundial do Câncer.

Dos 576,5 mil casos previstos para este ano, 152,2 mil deverão ocorrer em São Paulo e outros 73,6 mil, no Rio. Juntos, os dois Estados abrigam cerca de 30% da população brasileira.

Segundo Cláudio Noronha, coordenador de prevenção e vigilância do Inca, a maior presença de idosos nos grandes centros urbanos e o estilo de vida nesses locais favorecem uma maior incidência da doença.

“O Rio de Janeiro, por exemplo, é o Estado que concentra o maior número de idosos no Brasil. São Paulo também tem um grande índice. O envelhecimento é um fator de risco porque quanto maior o tempo de exposição aos fatores de risco, como o tabagismo, maior a chance de a pessoa desenvolver a doença”, diz. “Além disso, nos dois Estados, o padrão de comportamento é baseado em alimentação inadequada e sedentarismo, que também são fatores de risco”, diz.

Além de reunir o segundo maior número de casos absolutos previstos para 2014, o Estado do Rio de Janeiro também possui a maior taxa de incidência de câncer por 100 mil habitantes entre as mulheres: 416,71.

Já entre os homens, a maior taxa é a do Rio Grande do Sul, com 533,92 casos por 100 mil habitantes. “Neste caso, o problema maior é o tabagismo. O Rio Grande do Sul é o Estado com a maior prevalência de fumantes. O cigarro é o principal responsável por grande parte dos tipos de tumor”, explica Noronha.

Segundo o especialista, o número de tabagistas no País vem diminuindo, mas é preciso medidas mais restritivas ao tabaco e ao álcool, além de políticas para prevenir a obesidade. “Ainda há muito o que se avançar na legislação quanto à propaganda do cigarro, da bebida e dos alimentos industrializados. As estimativas mostram a necessidade de agir fortemente na prevenção”, diz.

Mulheres que confundem amar com sofrer

“Queria muito ter um companheiro, mas tenho preguiça de começar tudo de novo, de conhecer alguém, de viver decepções de novo, amar é tão perigoso.”

O amor, assim como o trabalho ou a família, pode assumir um caráter de sofrimento ou bênção, dependendo da qualidade da relação estabelecida. Qualquer casal pode passar por percalços ou fases difíceis, mas se o sofrimento é a tônica de seu relacionamento, cuidado: talvez você esteja vivendo um amor destrutivo e, o que é pior, pode estar, de certa forma, dependente dessa dor.

O tipo de experiência que você vive já foi projetado ou aceito no seu repertório presumido de possibilidades. Ou seja, se você está vivendo uma relação sofrida, provavelmente aceitou inconsciente e afetivamente que amor e sofrimento podem caminhar juntos. Caso tivesse a certeza inequívoca de que amor nada tem a ver com dor, possivelmente teria aberto mão da relação quando seus primeiros sinais neuróticos tivessem emergido.

Caso você seja fruto de uma relação sofrida, uma boa parte do seu sistema de valores pode entender como “normal” as desavenças, as agressões, os tumultos e as frustrações de uma relação amorosa. Com esse histórico, você pode ter desenvolvido uma tendência à autodestrutividade, e aí não sofre só na relação, mas também no trabalho, com amigos, no exercício da maternidade, na relação com seu corpo e por aí afora.

Seja como for, se seu relacionamento afetivo é sinônimo de sofrimento, talvez você precise pensar em algumas questões, a título de salvar sua vida:

1. Estou nessa relação porque acredito nela ou porque não consigo aceitar o fato de que ela não é aquilo que busco? Estou sendo realista ou ando agindo como uma criança mimada que não abre mão de sua fantasia?

2. Me relaciono com esta pessoa específica porque a amo, admiro, ou porque tenho medo de ficar sozinha? E, se for isso, vale pensar: o que significa para você estar sozinha? Não pode ser bom às vezes?

3. De onde tirei a ideia de que amar é igual a sofrer? Se for um ensinamento de sua família, outra questão urge: quero perpetuar essa herança ou prefiro reescrever minha história em outras bases?

O primeiro passo para mudar o padrão de sofrimento em sua vida é não aceitá-lo como “normal”.

Cada vez que um conceito é modificado dentro de nós, essa mudança invariavelmente se manifesta nas diversas áreas de nossa vida, mais cedo ou mais tarde. Por exemplo: se você tiver certeza absoluta de que merece ser bem tratada, bem cuidada e bem amada, não aceitará qualquer proposta que não lhe ofereça os atributos de amor, cuidado e bom tratamento. Se você acreditar que seres humanos devem andar eretos, não aceitará que alguém determine que você deva rastejar – na verdade, vai querer se proteger de pessoas ou situações que a queiram rastejante.

Lição número 1: ninguém pisa em quem está de pé, levante-se.

Lição número 2: igualmente importante: se quer um “príncipe”, transforme-se primeiro em princesa – ame-se, tenha uma vida interessante com projetos de vida bacanas, cuide-se e tenha plena consciência de ser merecedora de amor, carinho, compromisso e afeto na mesma medida em que oferecer.

Lição número 3: será que você está recebendo do mundo o que oferece a ele, numa equação matemática? Se você for crítica demais, ácida demais, arrogante demais ou apresentar quaisquer outros predicados nocivos em demasia, talvez esteja recebendo do mundo todas as projeções que faz, vindas do seu próprio mundo interno – a um mundo interno talvez sombrio, carente de luz, de terapia, de um grupo de autoajuda, de um padre, de um bom livro pra começar o processo de mudança. O que importa é começar.

Porque, no final das contas, tanto faz se você vive um relacionamento autodestrutivo porque sua mãe era egocêntrica, seu pai bebia ou porque seus pais se estapeavam ou qualquer outra desgraça tenha acontecido na sua vida. No passado, as lembranças. No futuro, a esperança. E no momento presente, o trabalho. Mãos à obra para construir uma vida melhor. Viver bem dá trabalho, mas a recompensa vale, acredite.

Dorit Wallach Verea é psicóloga, coordenadora da Clínica Prisma, mestre em Psicologia Clínica pela PUC/SP e especialista em Dependência Química pelo Instituto Sedes Sapientiae. É também especialista em Psicologia Psicossomática pela Universidade Paulista/SP.

Autossabotagem no trabalho: aprenda a identificar

Numa época em que o individualismo e a competitividade são encarados como bons olhos para ascensão profissional é de se esperar que, muitas vezes, as pessoas não “joguem tão limpo” quanto deveriam. Sem um crivo moral mais rígido, é fácil “escorregar” para métodos questionáveis de alcance do sucesso, entre eles a sabotagem.

Diante da sabotagem alheia, o equilíbrio e a autoestima fazem toda a diferença. Quando estamos emocionalmente equilibrados e seguros de nós mesmos é possível identificar a sabotagem e lidar com ela. Quando, ao contrário, estamos emocionalmente instáveis, um evento como esse pode pôr o nosso emprego em risco e, às vezes, até a nossa sanidade mental. Pessoas mais sensíveis costumam se desestabilizar mais facilmente diante de assédio moral e outros tipos de sabotagem. Casos de depressão, transtornos de ansiedade e até sintomas de trauma psíquico são rotinas nos consultórios de psicologia e psiquiatria.

Entretanto, não é só com o inimigo externo que devemos nos preocupar: muitas vezes, a “puxada de tapete” não vem de fora.

Nossos pensamentos podem sabotar nosso crescimento profissional de três formas:

1. Quando julgamos estar sempre em falta, acreditando que deveríamos fazer mais, trabalhar mais ou acertar mais numa dimensão que foge da realidade humana.

2. Quando supervalorizamos cada pequeno trabalho executado e esperamos recompensas imediatas. Pensamos e ressaltamos sempre o que deveríamos ou poderíamos receber.

3. Quando pensamos que talvez não sejamos tratados com o respeito que merecemos e não tocamos no assunto com o RH ou com a chefia por medo de perder o emprego, de parecer arrogante ou por simples falta de coragem.

Na autossabotagem, o medo e a insatisfação mascaram desde déficits na autoestima até culpa por estar feliz. Não é fácil se apropriar e viver a felicidade, dependendo de onde se tenha vindo. Muitas pessoas que viveram dificuldades materiais na infância não sabem exatamente como lidar com o próprio crescimento, especialmente se outras pessoas importantes da família não conseguiram atingir o mesmo progresso.

Ganhamos o que merecemos ou ganhamos o que suportamos receber? Na prática clínica, é comum encontrarmos pessoas se queixando da chefia, dos colegas de trabalho, de seu ambiente profissional, de seus baixos ganhos, assim como das dificuldades em alçar voos apesar dos altos investimentos em especializações, pós-graduações e outros. Possivelmente, em casos assim é preciso investir também na revisão de seus conceitos – que pode ser por meio de psicoterapia ou outro instrumento de introspecção e análise.

Ao resignificar e modificar seus preconceitos em relação a si própria, a evolução no trabalho e em outras áreas é quase matemática de tão certa.

Finalizando, a autocrítica é fundamental para enfrentar a autossabotagem profissional. Alguns pontos a se ater: atrasos em relação a horários e prazos de entrega; desânimo ou má vontade no ambiente profissional; displicência na realização de suas tarefas; entrega de tarefas pela metade, faltas “sempre que possível”. Em momento de crise existencial podem ocorrer alguns dos comportamentos acima descritos, mas se você acha que esse é um padrão repetitivo em sua vida, talvez seja hora de repensar.

Você deve estar disposta a pensar sem medo – pensar se não é hora de mudar de emprego ou profissão ou se, ao contrário, se o melhor a fazer é arregaçar as mangas e tratar com mais carinho sua vida profissional na atual configuração.

Dorit Wallach Verea é psicóloga, coordenadora da Clínica Prisma, mestre em Psicologia Clínica pela PUC/SP e especialista em Dependência Química pelo Instituto Sedes Sapientiae. É também especialista em Psicologia Psicossomática pela Universidade Paulista/SP.