Entenda os transtornos alimentares

Atmosfera Feminina

A associação entre comida e afeto permeia nossas vidas desde nossos primeiros momentos fora do útero materno.

É interessante observar o processo de amamentação: mesmo depois de finalizar a sucção, o bebê continua mamando, sem sugar, como se o seio materno fosse uma chupeta. Visto que a necessidade alimentar está saciada, pode-se supor que ele obtenha outros ganhos quando mama: o colo da mãe, o calor do seu corpo, a segurança de ouvir sua voz.

Se pensarmos no nascimento como um evento em parte traumático, é claro que voltar para perto do corpo que foi sua casa durante nove meses pode ser reconfortante. Mas se a conversa estiver parecendo um pouco nostálgica, podemos nos debruçar sobre os dias atuais e nos perguntarmos se continuamos vivendo sob a égide desse mesmo mecanismo – procurando conforto emocional na comida.

É claro que sofisticamos essa busca voraz através dos tempos e elegemos novas mães para substituir a original: a doceria, a pastelaria, a gôndola de chocolates do supermercado mais próximo. As opções gastronômicas são várias, mas elas mascaram uma verdade inconveniente: apesar de crescidos, continuamos a usar a mesma técnica experimentada talvez em nossos primeiros minutos de vida para aplacar o medo, a ansiedade, a raiva ou a dor. Primitivo, não?

Fique de olhos nos transtornos alimentares!

Em alguns casos, a administração dessa delicada relação acaba por gerar sérios transtornos como anorexia e bulimia, ambos passíveis de ocasionar graves danos físicos e psicológicos ao paciente e seus familiares. O tratamento médico deve vir acompanhado do atendimento psicológico exatamente para que a psicoterapia possa oferecer instrumentos de sofisticação desse instinto tão primitivo oriundo de nossas fases mais elementares de desenvolvimento.

A relação travada entre paciente e psicoterapeuta visa criar novos manejos dos sentimentos que não pela compulsão alimentar ou pela necessidade de se livrar dos resultados dela, como acontece na bulimia. Dentre muitos mecanismos psicológicos de defesa que utilizamos, talvez o mais completo, o “top” dos mecanismos, seja a sublimação – capacidade de transformar a angústia em arte, em sonho, em projetos.

Quando se está só, refém da própria voracidade, é difícil enxergar novos horizontes. Em contrapartida, a aceitação e a busca de ajuda especializada abrem novas frentes de sublimação para que sigamos mais ou menos ilesos nessa árdua jornada entre o primitivismo de nossos instintos e a necessidade de nos elevarmos a eles, mandando no nosso consumo e nos tornando mais conscientes da real natureza de nossas fomes. Porque, como já disse o poeta, “a gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte”.

Dorit Wallach Verea é psicóloga, coordenadora da Clínica Prisma, mestre em Psicologia Clínica pela PUC/SP e especialista em Dependência Química pelo Instituto Sedes Sapientiae. É também especialista em Psicologia Psicossomática pela Universidade Paulista/SP.

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