Droga é a maior causa de abandono de crianças

O Globo

País tem 46 mil em abrigos; vício dos pais é responsável por 80% dos encaminhamentos

Pelo menos 46 mil crianças e adolescentes vivem hoje em abrigos no Brasil. Nos últimos dois anos, a cada dia 38 meninas e meninos de até 15 anos de idade foram vítimas de abandono ou negligência, segundo dados do Mapa da Violência 2014 — Crianças e Adolescentes, antecipados ao GLOBO, que reúne notificações da rede de saúde. Ao mesmo tempo em que pratica regras mais rígidas e evita separar pais e filhos, o país perde a guerra contra os efeitos devastadores do crack nas famílias. Segundo pesquisa do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), mais de 80% dos encaminhamentos de crianças e adolescentes a abrigos estão vinculados à dependência química dos pais. E a droga por trás dos números, segundo os especialistas, é o crack.

— Estamos perdendo muitas batalhas para o crack. Essa é mais uma — diz o desembargador Antonio Carlos Malheiros, coordenador de Infância e Juventude do Tribunal de Justiça de São Paulo.

Dos 27.625 casos de abandono e negligência nesses últimos dois anos, incluídos no Mapa da Violência, 61% são de crianças com até 4 anos — fase em que desenvolvem a capacidade cognitiva, que é conhecer, entender e se relacionar com o mundo. Além do abandono, as crianças são vítimas de outros tipos de violência. No caso dos meninos, trabalho infantil (58%) e violência física (53,8%) lideram a lista. As meninas sofrem violência sexual (81,2%) e são vítimas de tráfico humano (76,9%) e tortura (55,8%).

— Os números estão subestimados. Temos muitos problemas de subnotificação pelos estados — diz o sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz, responsável pela elaboração do Mapa com dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação.

O destino de órfãos do crack preocupa. Apenas 20% dos municípios brasileiros têm abrigos cadastrados pelas autoridades, de acordo com o Censo 2012 do Sistema Único de Assistência Social. Ou seja, ou não há abrigos ou são clandestinos. Não são raros casos em que as crianças são deixadas com vizinhos ou conhecidos. Antonio Carlos Ozório Nunes, da Comissão da Infância e Juventude do CNMP, diz que parentes de usuários de crack relutam em ficar com seus filhos, pois temem o comportamento imprevisível dos pais:

— As famílias têm mais medo dos dependentes químicos de crack, tidos como mais agressivos. E quando a mãe é presa, como fazer? Às vezes, ninguém quer ficar com a criança.

Integrante do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda) e assessor nacional da ONG Aldeias Infantis SOS, que mantém abrigos em 13 estados do país, Fábio José Garcia Paes afirma que na Região Sul do país os casos de abandono e negligência triplicaram nos últimos anos. Hoje, segundo ele, 45% das cerca de 800 crianças atendidas foram abrigadas porque os responsáveis por elas entraram no mundo das drogas.

— O crack se destaca como elemento avassalador — diz Paes.

Há outra questão ainda mais delicada: o uso de crack pela mãe engrossa a lista dos preconceitos que permeiam a adoção. Há receio de que os bebês abandonados venham a sofrer transtornos mentais no futuro, associados à droga consumida durante a gestação. Na capital paulista, o Hospital e Maternidade Leonor Mendes de Barros, da rede estadual, costuma receber gestantes usuárias de drogas. Em 2012, foram 71 casos. Em 2013, 90. Este ano, até o início da segunda quinzena deste mês, já foram 16 atendimentos.

— O crack hoje bate em todas as portas. A capilarização da droga é monstruosa e ela tem preponderância sobre o álcool e a cocaína. Mas é preciso lembrar que o álcool pode trazer mais dano ao feto do que a cocaína — diz Samuel Karasin, que atua no plantão judiciário do Centro de Referência de Álcool, Tabaco e Outras Drogas (Cratod), perto da região conhecida como cracolândia em São Paulo.

O problema é que o crack costuma deixar seus dependentes menos funcionais. Não é incomum, segundo Karasin, casos de mulheres que tiveram bebês e abandonaram o hospital sem eles. Ou de gestantes que fogem do atendimento durante a gravidez, colocando a vida do bebê em risco. A Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo aumentou em 140% os leitos para tratamento de dependentes químicos nos últimos dois anos: de 482 em 2011 para 1.160 em 2013.

Diretor técnico do Unad — Unidade de Atendimento ao Dependente Heliópolis, em São Paulo, o psiquiatra Cláudio Jerônimo diz que o preconceito contra os órfãos de crack potencializa o risco de eles virem a desenvolver quadros psicóticos, depressão, bipolaridade e até vir a se envolver com drogas no futuro:

— A proteção, o suporte psicológico e o apoio familiar anulam fatores de risco.

Ariel de Castro Alves, que integra o Conselho Estadual de Direitos das Crianças e Adolescentes em São Paulo, afirma que as drogas acentuam os conflitos familiares e aumentam a vulnerabilidade social:

— Estamos criando uma geração de filhos do crack. O abandono, no futuro, resulta em violência e aumento no número de infrações.

Leis contra tabaco poderiam salvar um milhão de vidas

Agência Efe

Nos países do continente americano vivem 12% dos fumantes de todo o mundo

Nos países do continente americano, onde há cerca de 145 milhões de fumantes, as campanhas de educação e as leis para o controle do tabagismo poderiam salvar um milhão de vidas por ano, segundo um relatório da Organização Pan-Americana da Saúde (OPS).

O relatório, divulgado esta semana, mostra as conquistas da aplicação do primeiro tratado internacional de saúde pública que entrou em vigor em 2005 e que contou com a adesão de 29 dos 35 países do continente.

O chamado Convênio para o Controle do Tabaco obriga os estados-membros a aplicar medidas e políticas para reduzir o consumo de cigarro e a exposição da população à fumaça.
“Os resultados são encorajadores e nestes nove anos que se passaram muitas vidas foram salvas”, declarou no documento a assessora regional da OPS sobre tabaco, Adriana Blanco.

Adriana advertiu, no entanto, que “ainda há uma grande proporção da população regional, principalmente os jovens, que continua exposta à fumaça do cigarro em locais públicos e as ações de promoção para incitar o consumo de um produto que é altamente aditivo”.

Nos países do continente americano vivem 12% dos fumantes de todo o mundo e as autoridades regionais de saúde calculam que a cada ano um milhão de pessoas morrem por questões relacionadas ao consumo de tabaco.

Segundo o relatório, menos da metade da população está protegida da exposição à fumaça em ambientes totalmente livres e apenas 25% da população está resguardada da publicidade do tabaco.

Segundo a OPS, a indústria de fumo continua apontando a publicidade de seus produtos à população de baixa renda, às mulheres e aos jovens.

A prevalência do consumo de tabaco na população adulta do continente é de 22 % e varia muito entre países, 41 % no Chile a 7% em Barbados e São Cristóvão e Névis, assinala o relatório.

Entre os mais jovens (13 a 15 anos) a prevalência do consumo de tabaco varia de 35,1% no Chile para 2,8% no Canadá. A diferença entre meninos e meninas fumantes está diminuindo em vários países da região como Argentina, Canadá, Chile, Colômbia e Uruguai.

Para frear a epidemia de tabagismo, a OPS recomenda o uso de advertências de saúde gráficas grandes nos maços de cigarro que informem os consumidores e que protejam os jovens da publicidade agressiva da indústria do fumo, proibindo toda forma de promoção e patrocínio do tabaco.

Também aconselhou o estabelecimento de programas de ajuda para os fumantes que querem superar a dependência e o aumento dos impostos dos produtos derivados do fumo.

Na América há 17 países que proíbem o fumo em ambientes públicos fechados, locais de trabalho fechados e dentro do transporte público.

Programa na cracolândia tem 25% de baixa adesão

Folha de S. Paulo

Estimativa é de ONG que faz gestão do projeto e é responsável por pagamentos

Um quarto dos 386 viciados que moram na cracolândia e estão cadastrados em programa da Prefeitura de São Paulo não aderiram completamente ao programa de trabalho e tiveram frequência baixa. Por isso, não devem receber o pagamento hoje.

A estimativa é da ONG União Social Brasil Gigante, que tem um convênio com a prefeitura para a gestão do projeto e é responsável pela remuneração dos usuários.

Intitulada Braços Abertos, a ação iniciada no dia 16 busca recuperar dependentes de drogas da região oferecendo tratamento, abrigo e trabalho.

A maior parte dos usuários cadastrados foi colocada no serviço de varrição de ruas e praças. Para cada dia trabalhado, eles recebem R$ 15.

“Esse grupo de 25% aparece de vez em quando, some e depois volta. Não há um interesse”, diz Carlos Alberto de Souza, diretor financeiro da entidade e responsável pelas ações na cracolândia.

No primeiro pagamento, na semana passada, todos os participantes receberam pela semana cheia, independentemente da presença.

A partir de hoje, o programa entregará o valor apenas dos dias trabalhados. Usuários que faltaram, mas comprovaram a ausência com um atestado médico também vão receber o dinheiro.

De acordo com a organização, os usuários foram avisados da mudança.

Apesar de não trabalharem nos finais de semana, todos receberão por esses dois dias.

Isso acontece porque a ação prevê a remuneração pela presença em atividades culturais agendadas para os fins de semana, mas que ainda não tiveram início.

“Nossa tenda estará pronta apenas no segundo fim de semana de fevereiro. Lá, eles poderão fazer teatro ou ver filmes”, diz Souza.

LISTA DE PRESENÇA

Para receber pelo dia trabalhado, o usuário precisa assinar a lista de presença duas vezes. A primeira às 9h, quando sai com o grupo, e novamente por volta das 12h, quando a jornada termina.

“Tem um pessoal que aparece uniformizado, assina a lista pela manhã, mas depois não volta. Se tiver apenas uma assinatura, não é considerado”, explica Souza.

De acordo com ele, um próximo passo é abrir o diálogo com os médicos de postos de saúde da região.

“Os usuários têm apresentado um volume muito grande de atestados. Vamos alertar esses médicos do que vem acontecendo”, diz.

Procurada ontem, a prefeitura não se manifestou.

Dependentes de crack terão emprego e hospedagem em São Paulo

Jornal Nacional

Serão 4 horas por dia de trabalho. Em troca, a prefeitura oferece três refeições diárias e R$ 15 por dia trabalhado, além da hospedagem em um hotel. Dependentes não serão obrigados a fazer tratamento médico.

A cidade de São Paulo começou, nesta terça-feira (14), mais uma tentativa de combater o consumo de crack. Dependentes químicos vão ganhar hospedagem, alimentação e emprego.

Os barracos de madeira e lona na região da Cracolândia começaram a ser desmontados durante a tarde. Uma nova tentativa de acabar com a Cracolândia, que concentra dependentes de crack no centro da cidade. A partir de agora, 300 vão receber ajuda desse novo programa.

“Foi absolutamente voluntário. Quem quer participar, quem não quer participar. É um grande desafio, mas é um caminho que estamos buscando”, comenta Luciana Temer, sec. mun. de Assistência Social-SP.

Os dependentes vão ter que trabalhar na limpeza da cidade e recolhimento de materiais recicláveis. Serão quatro horas por dia de trabalho e duas horas em programas de requalificação profissional.

Em troca, a prefeitura oferece três refeições diárias e R$ 15 por dia trabalhado, com pagamento semanal. Além da hospedagem em um dos cinco hotéis cadastrados.

Os hotéis foram todos reformados há pouco tempo. Tem até uma sala de convivência com sofás para os novos hóspede. Uma das suítes com banheiro pequeno, mas com chuveiro elétrico. No quarto, armário e camas com espaço no máximo três pessoas.

Outro ponto do programa é mais polêmico. Os dependentes não serão obrigados a fazer tratamento médico. Mas os que quiserem, vão ser encaminhados.

“O tratamento é pra que essa pessoa reconstrua sua vida. Reconstrua a vida dela e possa ver que ela pode ser feliz. Que possa buscar no trabalho, no emprego, a reestruturação dos amigos, da família, e a saúde. Acho que é um passo importante pra isso, buscar o seu bem-estar integral”, diz José de Filippi Junior, sec. municipal de Saúde-SP.

A médica psiquiátrica condena a falta de tratamento. “Eu acho que é uma medida ingênua, bem intencionada, mas infelizmente boas intenções não funcionam numa situação tão grave como essa. Eu não vejo muita coerência em você promover a reinserção antes de fazer o tratamento”, avalia Ana Cecília Marques, psiquiatra.

Uma dependente, que aderiu ao programa, aprova a ideia e já planeja o recomeço. “Arrumar um trabalho, pegar meu filho e ter minha casa. E ser feliz. Com certeza, se Deus quiser”, afirma.

A prefeitura de São Paulo afirmou que o programa mostrado na reportagem tem como objetivo a reinserção social. E voltou a dizer que o tratamento da dependência não é obrigatório para os participantes do programa, mas que será oferecido para os que pedirem.

Serviço de apoio a usuários de drogas já atendeu mais de 16 mil pessoas em 2013

EBC

O serviço telefônico Ligue 132, que oferece atendimento gratuito de orientação e informações sobre os riscos do uso de drogas e seus efeitos no organismo, chegou a 16.452 pessoas atendidas em novembro. O serviço faz parte do Programa Crack, É Possível Vencer, do governo federal.

O serviço funciona em tempo integral, durante todos os dias da semana. Entre os que procuram atendimento, a maioria é de homens com mais de 35 anos, com ensino fundamental incompleto, solteiros e com renda de até cinco salários mínimos.

Na maior parte das situações, os próprios usuários de drogas (39%) ou parentes (28,6%) fazem a ligação em busca de informações (45,7%), ou para solicitar material informativo (9,6%). Informações sobre consumo de álcool (22,9%), maconha (20,8%) e cocaína (31,1%) são as mais atendidas pelos profissionais do Ligue 132.

O serviço foi inaugurado em 21 de junho de 2005 pela Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad), do Ministério da Justiça, em parceria com a Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA).

Novo secretário da Saúde diz que ampliará centros para dependente

Folha de S. Paulo

Pelo menos mais três centros de apoio a dependentes químicos devem ser abertos na capital paulista nos próximos meses. Atualmente, há somente uma dessas unidades na região central.

O secretário da Saúde do Estado, David Uip, informou que as áreas já estão definidas e a decisão “tomada” e que vai ser necessário apenas vencer trâmites administrativos para “expandir a rede”.

Segundo Uip, os novos centros estarão na rua Helvétia, no centro, e nas ruas Santa Cruz e Mauro, na zona sul. Vão ser usados imóveis do governo de São Paulo que serão reformados e ampliados.

“O tema é muito importante para mim. Dois dias depois da minha posse, fui visita a cracolândia e o Cratod (Centro de Referência de Álcool, Tabaco e Outras Drogas). Vamos estender a rede de atenção aos dependentes na capital e em todo o Estado.”

David Uip não quis se manifestar em relação às internações compulsórias de dependentes químicos.

“É uma questão técnica que foi discutida pelo programa de atenção aos dependentes, que é liderado pelo Ronaldo Laranjeira [psiquiatra], e é ele quem decide.”

Quando a família vira codependente

Jornal A Cidade

Papa diz que sociedade precisa ter coragem para combater a chaga do tráfico de drogas

“Eu te amo, mas não aceito a maneira como você está agindo”. Esta foi a frase que Terezinha Henrique de Faria, de 62 anos, disse ao filho 18 anos depois que ele se tornou um dependente químico.
Terezinha teve coragem para mudar suas atitudes com o filho e lutar ao lado dele.

A coragem foi citada pelo papa Francisco, durante visita ao Brasil, como um ato importante contra a dependência química.

Além disso, o papa se posicionou contra a legalização das drogas e criticou os traficantes, chamando-os de “mercadores de morte”.

O filho de Terezinha, hoje com 33 anos, começou a fumar maconha na adolescência, com 13 anos. Terezinha viu o filho usando a droga e se desesperou.

“Comecei a chorar, me descabelar, o agredia, xingava, o chamava de maconheiro. Eu ia atrás dele nas bocadas. Fiz isso várias vezes. Sofri, sofri muito. Fiquei esgotada. Coração dói muito de ver um filho drogado. Dói muito por dentro”. O sofrimento foi tanto que Terezinha adoeceu.

“Entrei em depressão. Faço tratamento com psiquiatra até hoje. A família fica doente, surgem brigas, atritos. A gente fica muito envergonhada e acaba se afastando das pessoas”, conta a mãe.

Mudança
Mas, há dois anos, Terezinha conheceu o grupo Amor Exigente, que atua como apoio e orientação aos familiares de dependentes químicos.

“Cheguei no Amor Exigente toda quebrada, destruída, chorando. Todos chegam assim. Duas semanas depois estamos sorrindo, nos encontramos”, afirma. Hoje, Terezinha coordena o grupo na Catedral de Ribeirão Preto.

Segundo ela, a principal lição que o Amor Exigente passa é que a pessoa deve mudar a si própria para depois transformar o outro.

“Hoje eu tenho força para entender a situação. Quando você vai atrás, briga, você fica na codependência. Eu aprendi que devo viver o meu eu e hoje aconselho, dou amor, carinho. Passei a saber lidar com ele. Estou mais fortalecida e feliz”, diz.

O filho de Terezinha conseguiu se livrar do vício da maconha há seis meses, depois de ficar internado em uma clínica para dependentes químicos nesse período.

Traficantes são ‘mercadores de morte’, diz papa
Durante visita ao Hospital São Francisco de Assis, no Rio de Janeiro, no dia 24 de julho, o papa Francisco afirmou que para combater “a chaga do tráfico de drogas” a sociedade precisa ter coragem.

O hospital é dedicado à recuperação de jovens dependentes químicos.

“São tantos os mercadores de morte que seguem a lógica do poder e do dinheiro a todo custo. A chaga do tráfico de drogas, que favorece a violência e que semeia a dor e a morte, exige da inteira sociedade um ato de coragem”, disse o papa.

Segundo Francisco, a legalização das drogas não é solução para combater o tráfico.

“É necessário enfrentar os problemas que estão na raiz do uso das drogas, promovendo uma maior justiça, educando os jovens para os valores que constroem a vida comum, acompanhando quem está em dificuldade e dando esperança no futuro”.

Governo do estado de São Paulo lança bolsa para usuários de crack

O governo de São Paulo lançará oficialmente nesta quinta-feira um programa pelo qual usuários de crack receberão uma bolsa de R$ 1.350 por mês para custear despesas com unidades de reabilitação e acolhimento social e evitar recaídas. O programa, que é visto com algumas ressalvas por especialistas, é anunciado ao mesmo tempo em que o atendimento a dependentes de drogas no Centro de Referência de Álcool, Tabaco e Outras Drogas (Cratod), do governo estadual, ainda esbarra em dificuldades, segundo juízes.

Pelo programa Recomeço cada dependente químico maior de 18 anos receberá um cartão que só poderá ser usado para pagar tratamento em comunidades terapêuticas, onde poderão morar e se tratar por até seis meses. Inicialmente, o projeto vai beneficiar 3 mil dependentes químicos que já tenham passado por atendimento psiquiátrico anterior. Caberá às prefeituras indicar os nomes dos dependentes que receberão o cartão, pois são os municípios que gerenciam os Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (Caps AD), onde os viciados recebem atendimento ambulatorial. O projeto chegará primeiro a 11 cidades do interior do estado onde há Caps AD.

Na comunidade terapêutica, o dependente tem qualificação profissional, de fortalecimento de vínculos com a família. Não tem médico, tem assistente social e pessoas que ministram oficinas para ajudar ele a se inserir na sociedade e no mercado de trabalho. Médico ele verá na rede de saúde pública e no Caps. O cartão agilizará o avanço do atendimento para o interior — explica o secretário de Desenvolvimento Social, Rodrigo Garcia.

Segundo o secretário, na capital, o atendimento já é feito por comunidades terapêuticas conveniadas. Ele estima que em 60 dias já haverá pessoas começando a serem atendidas. As comunidades terapêuticas serão escolhidas pelo governo após passar por vistorias e terão que apresentar plano de atividades para os usuários, dentre outros requisitos. A iniciativa é inspirada num projeto similar feito pelo governo de Minas Gerais, onde a bolsa é de cerca de R$ 900.

A professora de psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e ex-presidente da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e Outras Drogas Ana Cecília Marques disse que numa situação em que pouco se faz para resolver o problema do crack no país, a iniciativa é positiva e pode ajudar pacientes que não teriam alternativa de tratamento caso não recebessem a bolsa. Mas ela acredita que o governo deveria exigir que houvesse um médico dentro das comunidades terapêuticas credenciadas.

Precisa de médico para fazer avaliação da síndrome de abstinência, que é um quadro grave e tem que ser tratado por um médico — afirma.

Thiago Fidalgo, coordenador do Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes da Unifesp , diz que o governo não deveria privilegiar a internação como solução para o problema das drogas, e sim investir em prevenção e tratamento ambulatorial, pois a internação é necessária em apenas alguns casos. Segundo ele, muitas comunidades terapêuticas não trabalham de forma adequada atualmente e precisariam se adequar.

Em muitas comunidades terapêuticas, pelo menos no período inicial, o dependente não pode deixar a unidade. Cerca de 70% dos usuários de drogas têm doenças psiquiátricas que precisam ser tratadas e a maior parte das comunidades terapêuticas não tem psiquiatra. O ideal é que a comunidade estimule a inserção social. E como ela vai fazer isso se afasta a pessoa da comunidade? — questiona Fidalgo.

Mais de três meses depois de um plantão judiciário ter sido instalado no Cratod, unidade de referência ao atendimento de dependentes no estado, a burocracia ainda emperra a ajuda a viciados. Segundo o juiz Iasin Issa Ahmedas, ainda há casos de dependentes em crack que esperam 30 dias para serem internados por falta de vagas, mesmo quando possuem laudo médico recomendando internação e decisão judicial determinando que o estado tome providências.

Na última sexta-feira houve um caso de um rapaz que estava há 30 dias esperando vaga, em casa. Ele estava estável, mas isso é um absurdo. Tem que ter vaga logo. A gente liga, cobra, e a vaga não sai. A novela desse rapaz acabou, ele conseguiu a vaga. Mas há uma burocracia enorme na área da saúde, as pessoas não se comunicam — disse Ahmedas.

Segundo a secretaria estadual de Saúde, desde que o plantão judiciário começou a atender no Cratod, em 21 de janeiro, até anteontem, o centro recebeu 25 mil telefonemas pedindo informações e foram realizadas 770 internações (sendo 712 voluntárias e 58 involuntárias, mas nenhuma compulsória). De acordo com a pasta, em 92% dos casos atendidos pela unidade, com necessidade constatada de internação, os pacientes permanecem por no máximo dois dias no Cratod, em leitos de observação, enquanto há a liberação de transferência para uma unidade hospitalar.

Neurociências: consumo e dependência de substâncias psicoativas

Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (CISA)

Segundo o Global Status Report on Alcohol, o nível de consumo de álcool declinou nos últimos 20 anos em países desenvolvidos, mas está aumentando em países em desenvolvimento

Organização Mundial de Saúde (OMS) *

O consumo de bebidas alcoólicas, à semelhança do consumo de tabaco, apresenta uma série de particularidades em relação às demais drogas psicotrópicas: Primeiramente, trata-se de uma droga legal. Em seguida, a distribuição está largamente disponível na maior parte do mundo e a sua comercialização é feita de maneira agressiva por companhias multinacionais cujas campanhas de publicidade e promoção tem por objetivo os jovens.

Segundo o Global Status Report on Alcohol, o nível de consumo de álcool declinou nos últimos 20 anos em países desenvolvidos, mas está aumentando em países em desenvolvimento, especialmente na Região do Pacífico Ocidental onde o consumo anual per capita entre adultos varia entre 5 e 9 litros de álcool puro, e também em países da antiga União Soviética.

As taxas de consumo de álcool em países asiáticos são, até certo ponto, responsáveis pelo aumento da taxa em países em desenvolvimento. O nível de consumo de álcool nas Regiões da África, do Mediterrâneo Oriental e da Ásia do Sudeste é muito inferior.

Na região africana, houve um aumento acentuado no consumo per capita nos anos 70 e um declínio começando no início dos anos 80. No entanto, o padrão de consumo entre os homens sofre tendência de permanecer entre os níveis mais elevados em países como Gabão, Gana, Quênia, Lesoto e Senegal e África do Sul.

Na região das Américas, o uso abusivo é um padrão comum de consumo de bebidas alcoólicas. Tanto o consumo de álcool quanto o seu uso abusivo são mais comuns entre os indivíduos do sexo masculino no México e nos EUA. Apesar de o México apresentar taxas gerais de consumo de álcool relativamente baixas, há nesse país uma elevada frequência de uso abusivo especialmente entre jovens e nas ocasiões de fiestas.

O uso abusivo de álcool entre jovens também é comum na região do Pacífico Ocidental. Apesar do declínio no uso de álcool na Austrália e Nova Zelândia, 50% dos jovens do sexo masculino desses países assim como da Coréia do Sul e Japão bebem frequentemente até o ponto da embriaguez.