Luto Patológico
A origem da palavra Luto vem do latim Lucto, que significa sentimento de pesar pela morte de alguém e por ser um processo tem começo, meio e fim, que tem seu pico de intensidade na hora em que se perde o ente querido e vai decrescendo até tornar-se uma lembrança. Porém, quando esse processo não se finaliza e se perpetua, impedindo que o indivíduo retorne as suas atividades cotidianas, ele dá início ao que chamamos de Luto Patológico.
Esse tipo de luto é divido em:
• Luto Crônico: tem duração excessiva e nunca chega a um término satisfatório.
• Luto retardado ou ausente: apesar de uma reação normal a essa perda, ainda assim não foi o suficiente para superá-la. E em outra situação de luto, a emoção expressa mostra-se desadaptada a perda atual.
• Luto Severo: é a intensificação do luto.
Segundo Parkes (1996), a perda pode ser vista como ‘um choque’. Assim como no caso do machucado físico, o ‘ferimento’ aos poucos se cura, porém, podem ocorrer complicações e a cura é mais lenta ou outro ferimento se abre naquele que estava quase curado. Nesses casos surgem as condições anormais, que podem ser ainda mais complicadas com o aparecimento de outros tipos de doenças.
Os determinantes que podem fomentar um luto patológico, segundo Worden (1991), são:
1. Quem era a pessoa;
2. A natureza da ligação;
3. Forma da morte;
4. Antecedentes históricos;
5. Variáveis de personalidade e
6. Variáveis sociais.
Uma das possíveis causas dessa patologia é o luto adiado ou negado. Para Parkes (1996), no luto adiado as reações imediatas à morte não são apresentadas e são provocadas mais tarde por eventos que não teriam força para tanto. E no luto negado, o enlutado não entra no processo de luto, age como se nada tivesse acontecido , negando todos os sinais de sofrimento e dor. Além disso, muitas pessoas têm a sensação de que se elas deixassem de sofrer ou não mais pensar em seu ente querido, ele “pensará” que o enlutado não o ama mais.
No processo de luto normal, isto é, após a morte de um ente querido, sentimentos de ambivalência fazem parte desse processo que se finaliza com a aceitação da realidade e elaboração da dor dessa perda, assim como reajustar-se em um ambiente sem a pessoa falecida.
Segundo Parkes (1970), o enlutado passa por quatro fases de elaboração do luto: torpor, anseio, raiva e reorganização. Durante esse processo é comum encontrar os seguintes sintomas como manifestações do luto normal:
Sentimento:
• Choque
• Tristeza
• Culpa
• Raiva e Hostilidade
• Solidão
• Agitação
• Ansiedade
• Fadiga
• Anseio
• Desamparo
• Alívio
Sensações Físicas:
• Vazio no Estômago
• Aperto no Peito
• Nó na Garganta
• Hipersensibilidade ao Barulho
• Sensação de Despersonalização
• Falta de Ar
• Fraqueza Muscular
• Falta de Energia
• Boca Seca
• Queixas Somáticas
• Suscetibilidade a Doenças
Comportamentos
• Distúrbio de Sono
• Perda / Aumento do Apetite
• Aumento do consumo de Psicotrópicos,
• Álcool e Fumo
• Comportamentos “Aéreos”
• Isolamento Social
• Evitar coisas que lembrem a pessoa que
• faleceu
• Procurar e chamar pela pessoa
• Hiperatividade / Inquietação
• Sonhos com a pessoa falecida
Cognições
• Descrença
• Confusão, déficit de memória e
• concentração
• Pensamentos Obsessivos
• Sensação da presença do falecido
• Alucinações
Muitos dos sintomas relacionados ao luto se assemelham aos da depressão e o diferencial para esse diagnóstico é a preservação da autoestima, contrariamente encontrada na depressão. Não se pode diagnosticar uma Depressão Maior antes dos dois meses de luto, ainda que a sintomatologia clínica corresponda a isso. A prorrogação ou a intensificação dos sintomas acima descritos fazem parte dos critérios diagnósticos para o luto patológico.
É possível reconhecer que alguém está passando por um luto patológico se após a morte, o enlutado persistir no processo de luto e apresentar os seguintes sinais e sintomas:
• Memórias espontâneas ou fantasias intrusivas relacionadas com a pessoa perdida;
• Fortes períodos de emoção relacionada com a pessoa perdida;
• Anseios ou desejos fortes e perturbadores de que o (a) falecido (a) esteja presente;
• Sentimentos de intensa solidão e de vazio;
• Afastamento radical das pessoas ou locais que recordam o falecido;
• Distúrbio do sono e Perda de interesse pelas atividades profissionais, sociais e cotidianas.
O Luto Patológico deve ser tratado pelo psicólogo que o auxiliará na elaboração do luto e pelo psiquiatra, pois devido ao agravamento dos sintomas o uso de psicofármacos geralmente se faz necessário.
Esse processo de cura se dá após o reconhecimento e aceitação da morte ocorrida e, também, com a retomada do controle de suas emoções e problemas que essa perda ocasionou ao enlutado. O luto aparentemente resolvido pode deixar marcas que se manifestarão ao longo de toda a vida.
“Só se perde aquilo que se tem…” (Parkes, 1996)
Régis Siqueira Ramos é Psicólogo Cognitivo Comportamental, aluno especial de mestrado pelo NIPPEL/HCFMUSP –Núcleo Interdisciplinar de Pesquisa em Luto.
Autor: Régis Siqueira Ramos
Medicina e patologias são coisas muito complexas, a anos trabalho na área
e sempre penso que é fantástico o corpo humano. Gostei muito do assunto
e busco muitas informações na internet sobre patologias de diversas áreas
embora eu seja especializado em pediatria.Parabéns pelo site, um abraço 😉